Esta semana uma imagem curiosa começou a circular pelas redes sociais. Nela, o apresentador Luciano Huck aparece abraçando uma pessoa, aparentemente em seu programa, na Globo, através de uma proteção de plástico. Como não assisto, não posso confirmar a situação exata, mas a imagem é real.
Internautas fizeram uma associação, a meu ver quase imediata, do “abraço de plástico” dado por Luciano Huck, com outra imagem onde aparece o presidente Jair Bolsonaro sentado ao lado de uma pessoa, um senhor de idade, em um município brasileiro, na ocasião de uma passagem rápida pela região.
Bolsonaro aparece com um braço sobre o ombro do senhor, os dois praticamente sem máscaras, lado a lado. A pergunta é: por que isso chamou atenção do público? Por que fizeram essa associação?
Antes de mais nada, é importante frisar que quem sobe no palco da Globo para gravar um programa, certamente deve passar por algum teste prévio para a detecção do novo coronavírus, certo? Assim como deve passar, também, o apresentador Luciano Huck para poder trabalhar, certo? Então, qual é a real utilidade do plástico entre o apresentador e o convidado?
Feita essa observação, a questão aqui não é sobre vírus, risco de contaminação ou pandemia. A minha abordagem, na verdade, é sobre o simbolismo que as duas cenas trazem à mente do cidadão comum. Em uma, vemos o abraço de plástico, enquanto na outra vemos, aparentemente, um gesto espontâneo de proximidade com alguém que pode até ter a mesma idade do presidente. Ou seja, ambos fazem parte do grupo de risco do coronavírus.
Enquanto na primeira cena o que vem à nossa mente é a ideia de uma “cena”, literalmente, onde o plástico chama mais atenção do que o abraço por si só, protagonizada por um simples apresentador de TV, na outra vemos ninguém menos que o presidente da República, a maior autoridade do país, de ouvidos atentos ao senhorzinho, prevalecendo muito mais o aspecto humano, em vez do cenográfico.
Duas imagens, dois significados, duas lições. Cabe a cada um de nós saber interpretá-las ao ponto de entender que valores e autenticidade não se medem por uma pandemia, muito menos pelo risco mal calculado de contaminação de um vírus. Eles se medem pelo caráter, e isso não se vende em um programa de TV.