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[Opinião] Seleção da Magalu promove discriminação racial e a ideologia do retrocesso

Quando a palavra de ordem é a “lacração”, tudo parece justificável e aceito com a mais absoluta normalidade pelos que vivem dentro da bolha ideológica, mesmo que estejam diante de graves violações à Constituição Brasileira, como é o caso, na minha visão, do programa de seleção para trainee da Magazine Luíza.

A empresa anunciou: “Gente, estão abertas as inscrições p/ o Trainee 2021, o programa q forma as futuras lideranças do Magalu. Igualdade de oportunidades e a inclusão são duas das nossas mais importantes causas. E, por isso, neste ano será exclusivo para candidatos negros.”

Como assim, “exclusivo para candidatos negros”? Desde quando é permitido estabelecer critério de seleção profissional ou de qualquer outra espécie a partir da cor da pele? A Lei nº 7.716 de 05 de Janeiro de 1989 é clara em seu Art. 4º ao dizer que é crime “negar ou obstar emprego em empresa privada” a pessoas por motivo de “discriminação ou preconceito de raça, cor”.

“Obstar” é o mesmo que criar dificuldade, obstáculo, etc., exatamente o que faz a Magalu quando impede que pessoas brancas não possam participar do seu programa de seleção atual por não serem negras.

O problema está no tipo de critério adotado, que neste caso é o racial. Pessoas podem ser impedidas de participar de uma seleção por questões técnicas, de competência, mas não por serem brancas ou negras, homens ou mulheres, heterossexuais ou homossexuais, já que o Art. 5º da nossa Constituição diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

A empresa pode até argumentar que existe no país critérios semelhantes baseados em cotas raciais. Mas essas são exceções previstas em Lei que não servem como referência para generalização, e ainda assim não deixam de ser questionáveis sob o ponto de vista da igualdade e não discriminação.

Agora, faço uma pergunta: Quem possui “identidade negra” poderá participar da seleção da Magalu?

Temos um impasse! Se já temos decisões na justiça que reconhecem a “identidade de gênero” como algo superior ao biológico, ou seja, negando até mesmo haver a determinação sexual entre macho e fêmea (veja aqui), o que impede uma pessoa branca que não se reconhece como branca, participar da seleção?

Se para não discriminar e promover a dignidade humana devemos reconhecer toda forma de autoexpressão, excluindo até mesmo o que a biologia nos diz sobre a real natureza humana, assim como na questão sexual o sexo não é determinante para definir quem é homem ou mulher, na racial a cor da pele também não deveria determinar quem é branco ou negro, concordam?

Consequentemente, se você é um possível candidato branco à vaga de trainee da Magazine Luíza, mas se sente uma pessoa negra de alma, sentimentos e pensamentos, não se sinta excluído do processo de seleção. Caso contrário, a empresa estará sendo duplamente discriminatória, pois além de não incluir brancos no atual processo, também não estará incluindo pessoas de “identidade negra”, o que seria um absurdo.

Ideologia do retrocesso

Ironias à parte, a verdade é que estamos lidando com uma situação preocupante onde em vez de vermos questões sobre diferenças raciais serem deixadas de lado em nome da igualdade comum, ainda precisamos lidar com pessoas e empresas que promovem a ideologia do retrocesso.

É retrocesso achar que precisamos revisar a história cometendo os mesmos erros do passado. Racismo não se combate com “racismo do bem”. Isso que chamam de reparação histórica é nada mais do que uma forma velada de alimentar a segregação racial em nome de uma falsa justiça.

Todos os povos no passado foram vítimas de algum tipo de injustiça, brancos e negros, entre eles mesmos e uns com os outros. Se não podemos voltar atrás para corrigir os erros dos nossos antepassados, o que devemos fazer é mostrar às futuras gerações que a igualdade só é possível quando todos são tratados igualmente, sem distinção de qualquer espécie.

Qualquer coisa diferente disso, a meu ver, como exemplifica o programa de seleção 2021 da Magalu, é um atraso moral para a sociedade e nada mais do que um racismo de roupagem nova, travestido de justiça ao custo da injustiça imposta aos demais.

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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