No Brasil, cerca de 60 mil pessoas morrem todos os anos vítimas da violência. Se cada morte for analisada individualmente, veremos situações absurdas envolvendo pessoas de diferentes classes sociais, gêneros e idades. No entanto, alguns casos se destacam e chamam atenção mais do que outros, mas não porque o peso da morte e o seu sofrimento seja maior, e sim porque a narrativa sobre ela é mais conveniente aos interesses de quem usa a tragédia como instrumento ideológico.
Este é o caso da morte de Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos. Ela morreu após ser baleada na última sexta-feira, quando estava dentro de uma kombi, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. De acordo com testemunhas, a menina estava com a família, quando policiais militares da UPP Fazendinha atiraram contra uma moto na região, atingindo a menina. O caso aconteceu por volta das 21h30.
Ninguém duvida de que a morte de Ágatha é uma tragédia sem tamanho. Um dos fatos que chama atenção, no entanto, ocorre devido à forma como este caso vem sendo abordado amplamente por alguns setores, incluindo a grande mídia, parlamentares da esquerda política e opositores ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
Este caso nos fez lembrar do assassinato brutal do menino Ruan, alguns meses atrás, que além de ter sido torturado, foi esquartejado e teve partes do seu corpo postas em uma churrasqueira por sua própria mãe e namorada, antes que fossem colocadas em uma mochila para descarte em um terreno abandonado.
Leia também: “Torturado e esquartejado, ele não se chamava ‘Marielle’: era só um menino de 9 anos“
Se passaram dias, semanas… até que o caso do menino Ruan tivesse uma repercussão de âmbito nacional, e ainda assim com pouquíssima ênfase. O Opinião Crítica foi uma das poucas mídias alternativas que noticiou o andamento do caso. O mesmo pode ser dito sobre a morte de uma adolescente de 14 anos, que foi torturada em plena luz do dia, esfaqueada e afogada por outras duas adolescentes, uma delas sua ex-namorada, transexual.
Veja também: “Adolescente de 14 anos é torturada e morta por outras que filmaram tudo“
Dois casos extremamente chocantes, recentes, mas que não ganharam às manchetes dos jornais. Tiveram pouca repercussão e NENHUMA manifestação de protesto, apoio de “artistas” globais ou qualquer outra forma de indignação reiterada publicamente por famosos, políticos, etc. Mas, o que isso tem a ver com o caso Ágatha?
A origem da violência e a conveniência da crítica
A diferença dos casos citados acima para o de Ágatha Félix está na origem da violência e na conveniência da crítica. Infelizmente, Ágatha foi morta por uma bala perdida, possivelmente disparada em um confronto de policiais com criminosos no morro do Alemão. É possível que os policiais tenham errado na abordagem e por isso causado a morte da criança? Sim!
Entretanto, mesmo que a morte de Ágatha tenha sido resultado de uma abordagem policial, ela certamente não foi intencional. Ainda que chocante, trágica e dolorosa, a morte da criança não foi resultado de uma ação voltada diretamente contra ela. Se confirmada a morte por bala perdida, ficará constatado que a criança foi mais uma vítima dos confrontos entre a Polícia e criminosos no Rio. Portanto, uma tragédia.
Se foi erro policial (ainda está sob investigação), os responsáveis devem ser punidos, mas qual pessoa em sã consciência diria que essa tragédia se equipara em nível de crueldade ao que aconteceu com o menino Ruan? Por qual motivo, então, a indignação contra agentes do Estado que arriscam suas vidas diariamente para proteger a população é imensamente maior, do que contra assassinos(as) confessos que cometeram atos brutais, também contra crianças?
Não estamos tentando mensurar a dor do luto, pois isso é impossível. Estamos apontando fatos objetivos que falam por si só e demostram como a sociedade, quando quer, trata com indignação seletiva determinados casos de violência, tudo em função de interesses políticos e ideológicos.
No caso Ágatha, a conveniência da crítica está na oposição ao atual governador do Rio de Janeiro, essa é a verdade! Infelizmente, a morte da criança está sendo instrumentalizada por viés político, e não humano, pois se fosse humano, de fato, os mesmos que hoje protestam contra a morte de Ágatha teriam se revoltado com a morte do menino Ruan e da adolescente assassinada na praia de Maria Farinha, em Pernambuco.
A violência direcionada, intencional, justifica muito mais a revolta do que a não intencional. Isso não anula a indignação, os protestos e o sofrimento em ambos os casos, mas faz com que o bom senso posto na balança pese mais para o lado da violência dolosa, quando há intencionalidade, e isso não é o que vemos no Brasil, porque o que rege o combate à violência na mente de muitos não é a intenção de tratar com frieza a dura realidade do crime organizado, mesmo diante das tragédias frutos desse combate, mas sim a vontade de manter viva uma narrativa insustentável que mais contribui para o aumento do crime do que para o bem comum.