O presidente Jair Bolsonaro acabou de conceder uma entrevista junto com seu quadro de ministros, para esclarecer os fatos relativos à renúncia do então ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Na ocasião, Bolsonaro negou que estaria tentando interferir nas investigações da Polícia Federal, mas que teria apenas exigido do então ministro da Justiça mais empenho no caso envolvendo a tentativa de assassinato sofrida por ele em 2018.
Além do caso Adélio Bispo, Bolsonaro também citou os casos Queiroz e Marielle Franco, afirmando que Moro também não teria se empenhado em esclarecer os fatos relativos à tentativa de envolvimento do presidente no caso.
Sobre a saída de Maurício Valeixo da diretoria da Polícia Federal, Bolsonaro negou que a renúncia do delegado tenha sido por sua decisão, mas uma consequência das declarações de cansaço do próprio Valeixo.
Segundo o presidente, ele mesmo conversou com Valeixo na noite da quinta-feira (23), onde teria ficado confirmada a decisão com base no desejo do delegado, diferentemente do que afirmou Sérgio Moro em coletiva.
Indicação ao STF
Um ponto crítico na coletiva de Bolsonaro foi a afirmação de que Sérgio Moro teria condicionado a concordância com a saída de Valeixo da PF à sua indicação ao Supremo Tribunal Federal.
Segundo o presidente, Moro afirmou que concordaria com a demissão de Valeixo após o mês de novembro, “quando você me indicar ao STF”, teria dito Moro, segundo Bolsonaro.
Bolsonaro se mostrou decepcionado também pelo fato de Moro não ter lhe procurado antes de marcar uma coletiva com a imprensa, a fim de anunciar a sua saída do cargo. O presidente elogiou o ministro no início da coletiva, mas externou profunda decepção com o seu “comportamento”.
Palavra de um e de outro
No final das contas, o saldo do embate entre Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro é muito mais uma diferença de narrativas do que fatos concretos, visto que ambos apresentaram versões diferentes sobre os mesmos acontecimentos.
Bolsonaro foi incisivo ao demonstrar insatisfação com à aparente falta de empenho de Moro com relação a pautas que considera importantes, como por exemplo a defesa da liberdade da população durante a quarentena e o direito à posse de armas.
Neste ponto, o presidente citou exemplos de abusos de autoridade cometidos em alguns estados, onde cidadãos foram presos acusados de violar a quarentena, apontando a omissão do então ministro.
O presidente também pontuou diversas vezes a sua autoridade como chefe do Executivo em nomear e exonerar ministros ou diretores, como o da PF, afirmando que autonomia (“carta branca”) “não é a mesma coisa que soberania”.
Bolsonaro alegou que tentou chegar a um consenso com Sérgio Moro sobre a saída de Valeixo, mas este teria se mostrado irredutível, aparentemente, por usar a sua posição como uma espécie de cobrança para a indicação ao Supremo Tribunal Federal.
Moro, por outro lado, enfatizou o suposto desejo do presidente em querer acessar informações privadas da Polícia Federal, o que seria ilegal, razão pela qual ele (Moro) não concordaria com a substituição do diretor.
Contudo, como a conversa entre os dois se deu em âmbito privado, a população não tem como se pautar de forma objetiva para saber quem está, de fato, falando ou não a verdade. É um voto de confiança que caberá ao eleitor decidir, provavelmente, em 2022.