O ex-ministro Sérgio Moro prestou depoimento no último sábado (02) na sede da Polícia Federal em Curitiba, local onde ganhou fama mundial por ter atuado como juiz da operação Lava Jato entre 2014 e 2018. Dessa vez, no entanto, foi a vez dele ser ouvido na condição de depoente e não como magistrado.
O objetivo da Justiça foi colher mais esclarecimentos e dados capazes de provar suas acusações contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, feitas na sexta-feira do dia 24 de abril, quando afirmou que o chefe do Executivo teria – ou estaria – tentado interferir na autonomia da Polícia Federal.
O depoimento de Sérgio Moro, acompanhado por um dos seus advogados – que também defendeu Eduardo Cunha e Marcelo Odebrecht, presos na Lava jato – durou cerca de oito horas e na ocasião o ex-ministro apresentou, segundo fontes ligadas ao ex-ministro, material equivalente há 15 meses de conversas entre ele e Bolsonaro, mas também com ministros de estado e interlocutores.
A fonte desses dados? Conversas pelo WhatsApp e emails.
Depoimento de Moro: indicativo de fragilidade
A lógica nos diz que se alguém afirma ter provas contundentes contra um adversário, a fim de provar suas acusações, a primeira coisa a fazer é apresentar esses dados da forma mais precisa possível, sendo pontual e objetivo, ou seja: indo direto ao ponto!
Até então, com base nas informações vazadas sobre o depoimento, tudo o que Sérgio Moro apresentou até agora foram mais conversas de WhatsApp e emails, chamando atenção para o fato de que os novos dados, supostamente, não envolvem apenas o presidente Bolsonaro, mas também ministros de Estado e interlocutores, segundo a CNN Brasil.
Pode ser que nesse material exista conteúdo realmente comprometedor contra o presidente? Sim, é possível. Mas, até então, a hipótese mais provável diante deste cenário é que Sérgio Moro não possui provas cabais contra Bolsonaro, mas sim uma narrativa de ordem jurídico-política. O que seria isso?
Seria nada mais do que uma interpretação acerca de fatos ocorridos entre ele e o presidente, envolvendo elementos jurídicos e políticos, mas sem dados objetivos capazes de formar um senso comum na esfera judicial. Em fez disso, Moro teria a seu favor apenas a subjetividade.
Material impreciso = construção de narrativa
Se verdadeira a informação, 15 meses de dados de celular e emails não sugerem a existência de provas cabais, mas sim a tentativa de construir uma narrativa acusatória contra o presidente da República. Moro estaria tentando extrair desse conteúdo elementos interpretativos capazes de sustentar as suas acusações.
Envolver ministros de estado e outros interlocutores em seu bojo de “provas” também reforça a nossa análise. Isso, porque, na falta de materialidade contra o principal alvo da acusação, a soma de outras figuras importantes, como quem costura uma teia de retalhos, pode visar substanciar a construção dessa narrativa.
Essa hipótese ganha força quando levamos em consideração três fatores: 01 – a gravidade das acusações; 02 – o alvo das acusações; 03 – a pessoa que faz à acusação.
O que temos é o maior nome da operação Lava Jato, conhecido mundialmente, acusando o presidente da República do Brasil de interferir na Polícia Federal, o que se confirmado significa crime de responsabilidade e consequente abertura de impeachment.
O que se espera diante de tamanha gravidade, vindo da parte de Sérgio Moro, senão a capacidade de provar em detalhes, e de forma cabal, tudo o que disse? Será mesmo que acusações feitas em rede nacional – com o estranho destaque para a rede Globo – e apresentação de prints de celular condizem com este cenário, ou visaram mais o sensacionalismo, como analisou a psicóloga Marisa Lobo?
O que todos se perguntam é: se é só uma narrativa, o que teria motivado o grande ex-juiz Sérgio Moro a partir por esse caminho? O que levaria o principal nome da Lava Jato à arriscar a sua biografia diante de possíveis acusações infundadas? O tempo e o desenrolar dos fatos poderão dizer. Nos resta aguardar.