Que o jornalismo brasileiro está comprometido por questões ideológicas, isso não é mais novidade para ninguém. Todavia, há uma clara diferença entre a defesa de posições e a tentativa de manipulação. Enquanto o primeiro caso revela apenas uma escolha do veículo por determinado viés, o segundo demonstra desonestidade para com o público.
Uma matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, por exemplo, sugere a tentativa de manipular o leitor sobre um caso envolvendo uma “quadrilha de travestis“. Um grupo de pelo menos oito pessoas, no caso travestis e homossexuais, mantinha relações sexuais com suas vítimas, mas enquanto isso fazia fotos e vídeos das cenas íntimas, provavelmente sem o consentimento dos envolvidos.
Depois do fim do programa, ocorrido geralmente em hotéis de luxo em Brasília, o grupo extorquia às vítimas ameaçando divulgar as fotos e vídeos da relação sexual. Este caso foi noticiado com mais detalhes aqui mesmo no Opinião Crítica, na matéria: “Polícia prende “quadrilha de travestis” que extorquia vítimas com fotos e vídeos”.
Um dos acusados de integrar a quadrilha, que estava foragido, foi preso no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, nesta segunda-feira (1°/7). Agentes da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) avisaram à Polícia Federal sobre o possível retorno de Samuel Junio Napoli de Souza, 21 anos, para o Brasil. Ele é apontado como um dos líderes do grupo.
Ao noticiar a prisão do suposto líder do bando, o Correio Braziliense usou o seguinte título em sua manchete: “Polícia prende foragido de quadrilha especializada em extorsão de LGBTs” (destaque nosso). No corpo da matéria há outro link para uma notícia equivalente, que diz: “Quadrilha que extorquia público LGBT é presa; três estão foragidos” (destaque nosso).
Onde está a manipulação?
Literalmente, não é possível saber se as vítimas da quadrilha de travestis pertencem ou não ao “público LGBT”. Na matéria divulgada pelo Opinião Crítica, com base em informações do portal Metrópoles, algumas dessas vítimas, na verdade, eram/são casadas com parceiros(as) heterossexuais.
A própria extorsão da quadrilha, ou seja, a natureza do crime, sugere que ela consistia justamente na ameaça de exposição das vítimas não meramente por terem relações extraconjugais, mas por se envolverem com os travestis, o que significa que tais pessoas (vítimas) não devem ser conhecidas socialmente como pertencentes ao “público LGBT”.
Em outras palavras, o que temos é o caso mais provável de pessoas travestis/homossexuais extorquindo heterossexuais. Obviamente, não estamos aqui discutindo o mérito da sexualidade de quem se envolve em programas sexuais com homossexuais. Na prática, é coerente afirmar que quem se envolve nesse tipo de relação também é homossexual. Todavia, há divergências quanto a isso, mas esse não o foco no momento.
O fato é que ao omitir da manchete que a quadrilha é composta por travestis/homossexuais, e inserir o “público LGBT” como vítima dos criminosos, o Correio Braziliense parece querer influenciar a compreensão do leitor no sentido de enxergar apenas os LGBTs como vítimas, e não possivelmente os heterossexuais.
Além disso, faz pensar também que se trata de um crime essencialmente contra o “público LGBT”, por ser “LGBT”, quando o que os fatos sugerem é o oposto disso: é o próprio público LGBT cometendo crime contra ele mesmo – vítimas LGBT/heterossexuais.