O ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou na última quarta-feira (29) um acontecimento no mínimo repulsivo do ponto de vista ético e também patriótico, ao dizer que o governador de São Paulo, João Doria, ligou para ele lhe pedindo para abandonar o governo Bolsonaro.
“Paulo, estou te ligando não como governador, mas como amigo. Quem sustentava governo era o Sergio Moro e você. Agora, sobrou você. Você é muito admirado. Em nome da sua biografia, quero te dar um conselho: desembarque do governo agora”, afirmou Doria por telefone.
Guedes, no entanto, rebateu de forma acachapante a tentativa de persuasão maliciosa do governador:
“João, eu agradeço sua ligação, mas não sou eu que sustento o governo Bolsonaro. Quem sustenta o governo é o povo que elegeu o presidente. Ele tem 1/3 de apoio. E outro 1/3 que fica no meio do caminho depois vai apoiá-lo. João, o país vive um momento democrático que é barulhento, mas virtuoso”, respondeu o ministro.
O diálogo entre Doria e Guedes foi revelado durante uma reunião com empresários na quarta-feira. Estavam presentes no Palácio do Planalto Flávio Rocha (Riachuelo), Luciano Hang (Havan), Meyer Joseph Nigri (Tecnisa), Sebastião Bomfim (Centauro) e Washington Cinel (Gocil).
O próprio Bolsonaro, que já sabia da conversa mas não havia comentado sobre o assunto ainda, pediu que Paulo Guedes falasse sobre o ocorrido. “PG, conta o que o ‘gravatinha’ te falou outro dia”, disse o presidente, segundo o Poder360.
Doria afronta o Brasil
A ligação de João Doria para Paulo Guedes em um momento de crise vivenciado pelo governo federal vai na contramão da postura ética esperada de quem governa o estado mais importante do país.
De forma explícita, o tucano estimulou a saída de um dos ministros mais importantes para o Brasil, na surdina, através de uma ligação telefônica, como quem tentava “comprar” maliciosamente a traição do ministro ao seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.
Doria enxergou na renúncia do ex-ministro Sérgio Moro a oportunidade de agravar ainda mais o quadro administrativo do país, e tudo isso em plena pandemia. Seu pedido para Guedes revela que o governador paulista parece estar mais preocupado em ver a derrota dos seus adversários do que o sucesso do Brasil.
Em tese, a ligação do governador para Guedes horas depois da renúncia de Sérgio Moro apenas reforça o que o presidente Jair Bolsonaro e aliados vêm externando constantemente sobre Doria: de que ele tem usado a pandemia do novo coronavírus como ferramenta política contra o governo.
Após essa ligação, a imagem de Doria fica manchada também diante do empresariado, visto que o governador deixa que o seu lado político fale mais alto do que a necessidade de estabilidade do país. Questionado, ele respondeu: “Foi uma conversa pessoal. Não pública”.