O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, concedeu uma entrevista para o Fantástico no último domingo (24), onde apresentou uma versão adicional sobre a sua renúncia ao cargo no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Moro, o governo Bolsonaro não teria demonstrado empenho no combate à corrupção, como ele esperava.
“Essa agenda anticorrupção – e me desculpem aqui os seguidores do presidente, se essa é uma verdade inconveniente -, mas essa agenda anticorrupção não teve um impulso por parte do presidente da república pra que nós implementássemos”, disse Moro.
Entretanto, o ex-ministro parece ter mentido ou, no mínimo, esquecido de uma entrevista também concedida por ele em janeiro desse ano (2020), ou seja, há menos de 4 meses atrás, onde não apenas defendeu a reeleição de Bolsonaro, como elogiou o seu “compromisso” com á agenda anticorrupção.
“Vou apoiar o presidente Jair Bolsonaro, ele quer a reeleição”, afirmou Sérgio Moro, pasmem, no dia 27 de janeiro desse ano. “O presidente está dando apoio às políticas da pasta [de Justiça e Segurança Pública]. Ele está honrando o compromisso que assumimos juntos”, continuou.
A entrevista de Sérgio Moro foi concedida para a rádio Jovem Pan, e não foi apenas o elogio ao “compromisso” do presidente com à agenda do Ministério da Justiça e Segurança Pública que Moro fez. O ex-ministro também defendeu a reeleição do presidente.
“Ele vai terminar o mandato, provavelmente vai ser reeleito, vai terminar o outro mandato, e a democracia vai continuar igual”, disse Moro ao rebater críticas sobre um suposto autoritarismo do governo. “A imprensa podia dar uma folguinha e destacar o lado positivo do governo”, completou o ex-ministro.
Ao falar da própria atuação, Moro disse: “Tem muita gente querendo enfraquecer o governo me tirando de lá. Eu, como ministro do governo, tenho de evidentemente apoiá-lo [Bolsonaro], não tem outra alternativa”, disse ele.
Moro elogiou o pacote anticrime
Como se tamanha contradição não bastasse, Sérgio Moro também elogiou à aprovação do pacote anticrime no Congresso Nacional, projeto esse considerado chave na luta contra a corrupção no país.
Antes disso, Moro negou que a inclusão de emendas diferentes do que esperava no pacote, como o chamado “juiz de garantias”, significasse uma derrota dele ou da proposta em si.
“A lei Anticrime tem muita coisa importante, não é uma derrota do Moro”, disse. “Inseriram questões que não eram da minha concordância. Mas tem coisas que são contornáveis por interpretação do juiz”, avaliou. “Essa é uma lei importante para o país que tem mais avanços do que retrocessos.”
Vaga no STF
A cereja no bolo nas contradições do ex-ministro Sérgio Moro diz respeito à possível indicação do mesmo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Questionado se enxergava isso com bons olhos, Moro confirmou.
“’É uma perspectiva interessante e natural na minha carreira’, disse. Ele defendeu que Bolsonaro só tomará a decisão na hora, mas admitiu que ‘gostaria’ de ser um dos indicados”, informou a Jovem Pan. Veja no vídeo abaixo: