É triste estar há mais de 20 anos lutando contra a ideologia de gênero, fazendo inúmeros alertas em palestras, jornais, portais da internet e em livros repletos de referências científicas, e mesmo assim continuar vendo o avanço de uma agenda ideológica que em vez de saúde, promove prejuízos emocionais e físicos em crianças e adolescentes.
O dado preocupante mais recente diz respeito à Resolução 715 do Ministério da Saúde, aprovada na 17ª Conferência Nacional de Saúde, neste mês de julho. Entre as propostas da pasta, está a de oferecer hormônios cruzados para adolescentes trans a partir dos 14 anos, entre outras.
Reproduzo abaixo um trecho da Resolução, com destaque meu:
“Atualizar a Política Nacional de Saúde Integral LGBT para LGBTIA+ e definir as linhas de cuidado, em todos os ciclos de vida, contemplando os diversos corpos, práticas, existências, as questões de raça, etnia, classe, identidade de gênero, orientação sexual, deficiência, pessoas intersexo, assexuais, pansexuais e não binárias, população em restrição de liberdade, em situação de rua, de forma transversal, e integração da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais; revisão da cartilha de pessoas trans, caderneta de gestante, pré-natal, com foco não binário; com a garantia de acesso e acompanhamento da hormonioterapia em populações de pessoas travestis e transgêneras, pesquisas, atualização dos protocolos e redução da idade de início de hormonização para 14 anos.”
Como podemos notar, a proposta é clara, e com ela também há a intenção de dar a documentos como caderneta de gestante e pré-natal um “foco não binário”, portanto, uma medida refletida pela ideologia de gênero, que nada tem a ver com ciência ou política de saúde.
Perigo real
Quando falamos de tratamento hormonal para adolescentes trans, estamos falando de um abismo de subjetividades, em todos os aspectos, menos quanto às consequências que esse tipo de intervenção poderá acarretar.
De acordo com um guia técnico publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), especificamente sobre disforia de gênero, quem se submete ao uso de hormônios cruzados corre o risco aumentado de desenvolver doença tromboembólica venosa; colelitíase; aumento das enzimas hepáticas; ganho de peso e hipertrigliceridemia, no caso dos hormônios feminilizantes.
Para quem se submete aos hormônios masculinizantes, os riscos aumentados são de desenvolver policitemia; ganho de peso; acne; alopécia androgênica e apneia do sono. Existem ainda os riscos aumentados com a presença de fatores de risco adicionais.
Quanto ao primeiro tipo de hormônios, os riscos são ter hipertensão; hiperprolactinemia e prolactinoma. No segundo, dos masculinos, os riscos são ter aumento de enzimas hepáticas e dislipidemia. E os perigos não param por aqui.
Quando há risco aumentado devido a fatores de risco adicionais, os médicos da SBP falam ainda sobre a possibilidade do desenvolvimento de perda da densidade óssea; câncer de mama; câncer de colo de útero; câncer de ovário e câncer de útero para quem utiliza hormônios masculinizantes, por exemplo.
Todos esses efeitos colaterais possíveis são possibilidades reais, sem contar com o aspecto da saúde mental. Como alguém que, uma vez iniciado o procedimento, poderá se sentir no futuro, caso venha a se arrepender? Já existem inúmeros casos desse tipo pelo mundo, com jovens vindo a público relatar o sofrimento por uma decisão tomada precipitadamente, errada.
Até nós, mulheres, quando atingimos a menopausa, somos alertadas dos efeitos colaterais da reposição hormonal, e muitas sofrem com isso. Se até hoje julgamos que um menos de 18 anos não pode ser imputado criminalmente como adulto, por ser jovem e, supostamente, não ter a devida maturidade para tomar certas decisões, como esperar que uma adolescente de 14, que mal deixou a infância, tem a clareza mental suficiente quanto à sexualidade?
Pressão social
A grande verdade por trás da explosão de jovens alegadamente “trans” não tem a ver com disforia, mas com a cultura atual e, também, o formato das novas famílias. Muitos estão sendo induzidos a ter confusão de gênero devido à propaganda massiva do ativismo LGBT+ a esse respeito.
É algo que até a psicóloga transexual americana Erica Anderson reconhece. Em uma matéria da Los Angeles Times, a colega de profissão disse que “um bom número de crianças está entrando nisso [em se declarar trans] porque está na moda”.
Anderson não é a única a enxergar isso. O número de profissionais especializados preocupados com essa nova “indústria” de saúde envolvendo o transgenderismo só tem aumentado, assim como os relatos de arrependimento de alguns que tomaram decisões drásticas de forma precipitada, sem o suporte profissional devidamente adequado
A própria SBP também demonstra sua preocupação ao frisar, com destaque meu, que “a terapia hormonal e a cirurgia, que podem vir a ser necessárias em alguns casos, só devem ser orientadas em centros de referência após um período prolongado de acompanhamento psicológico/psiquiátrico e têm indicações precisas devido aos vários problemas sociais e de comportamento enfrentados por estes pacientes“.
Conclusão
Quando temos uma política pública que visa oferecer hormônios para adolescentes de 14 anos, mesmo com tantos riscos envolvidos e a complexa subjetividade dos motivos por trás da disforia, a proposta, em si, tende a ser de engano e não de saúde.
Precisamos promover, isto sim, compreensão, respeito e acolhimento, a fim de entender o sofrimento dos jovens que por alguma razão desenvolvem disforia. Uma vez acolhidos e acompanhados, maduros e conscientes de quem são e o que realmente desejam, terão a capacidade de escolher corretamente se querem ou não se submeter a algum procedimento.
Não creio, portanto, que adolescentes de 14 anos estejam enquadrados nessas condições, especialmente em uma rede de saúde pública tão precária como a do Brasil. Esta é a minha opinião.
*O texto acima é de inteira responsabilidade da sua autora, não refletindo, necessariamente, a opinião do site Opinião Critica.