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Psicóloga analisa a música Bob, de Kamaitachi, e faz grave alerta aos pais

Vez e outra a internet aparece com conteúdos que preocupam pais e mães, especialistas em saúde e líderes religiosos em geral, como é o caso da música “Bob”, do cantor conhecido no Youtuber como Rafa Kamaitachi. Nesse caso em particular, quero fazer algumas pontuações sobre a letra da música Bob, além de outras do mesmo autor, visando dar algumas orientações às famílias.

Além de psicóloga, especialista em Saúde Mental, também sou cristã, com treinamento em teologia, e por isso tentarei fazer uma separação das duas áreas de conhecimento ao analisar a letra da música Bob brevemente. Dessa forma o leitor vai ter uma noção mais ampla acerca das músicas de Kamaitachi.

Observe o que diz, por exemplo nesse trecho da música Bob: “Ele não quer sair de mim, mim, mim, mim. Já achou sua morada aqui. Ele quer que você vá embora, bate a porta do meu quarto e nunca mais tente essa porta abrir”.

Nessa parte Kamaitachi fala do personagem imaginário chamado “Bob”, que aparentemente “mora” no corpo da criança, a qual parece atender aos desejos de Bob com relação aos próprios pais. Isso fica evidente quando ele diz que “Ele não quer sair…” e “Ele quer…”, ou seja, conferindo poder de controle do personagem sobre a vida da criança.

Na sequência, a letra da música Bob diz o seguinte:

“Mamãe, tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que teu tic tac tem um efeito extra forte
Que tu só se levanta no amanhã por pura sorte

Papai, tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que eu tenho outras mamães, que tu esconde até da morte
E teu nariz fica branquinho usando algo que não pode”.

O trecho acima, com destaques meus, expressam a relação da criança com o personagem “Bob” diante do aparente abandono afetivo dos pais. No entanto, note que Kamaitachi novamente confere poder de influência à figura de Bob, ao dizer que “Ele vem…” e que ele “diz”.

Na música Bob, o personagem misterioso, portanto, é um ser ativo, que tem voz e influência, pois é ele que faz acusações contra os pais da criança, dizendo o que eles fazem de errado ou arriscado, moralmente condenável, insinuando o comportamento suicida da mãe e a dependência química do pai.

Psicologicamente, podemos entender o trecho acima como expressão de revolta, ironia e sarcasmo de Kamaitachi diante de situações reais vivenciadas por muitas crianças (ele próprio?), o que deve ser encarado com atenção, honestidade e preocupação. O personagem Bob, nesse caso, seria o ser que dá vida aos sentimentos ruins do autor. Bob expressa a angústia do abandono e do caos familiar vivenciado pela criança.

Elementos teológicos na música Bob, do cantor Kamaitachi

Além dos aspectos psicológicos que podem ser extraídos da música Bob, há também os espirituais, motivo pelo qual a letra da composição de Rafa Kamaitachi causou tanta polêmica e desconforto em quem a ouve, uma vez que o personagem imaginário foi associado, pelo próprio autor da música, a uma entidade demoníaca. Observe:

“Meu amigo Bob diz
Que é um menininho corrompido
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado, por isso todo esse caco de vidro

Bob diz que é filho de um anjinho que foi caído
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado
Por isso ele inverte o crucifixo”

No âmbito psicológico, quem seria Bob? A própria criança vivenciando uma angústia profunda pela relação conturbada com os pais? Talvez sim. O “menininho corrompido” seria essa criança, talvez corrompida de várias formas, não só afetivamente, mas fisicamente (abuso sexual).

Todavia, ao mesmo tempo em que é possível encarar, sim, a letra de Bob, inclusive o próprio personagem, como uma criança em possível sofrimento que desenvolveu um comportamento autodestrutivo e revoltoso diante da vida, capaz de lhe isolar dos pais e usar a figura de um demônio imaginário para expressar esses sentimentos, também há um cenário espiritual nesse contexto.

A associação com um anjo “que foi caído” e a inversão de um crucifixo são associações à figura de Satanás, que foi expulso da presença de Deus, conforme ensina a doutrina cristã. O crucifixo invertido é uma representação dessa figura demoníaca. Nesse caso, situações de caráter emocional/psicológico podem, sim, dar margem para influências espirituais malignas.

Segundo a Teologia Cristã, Satanás veio para “roubar, matar e destruir”, de forma que tudo o que apresenta um contexto de sofrimento, onde há exploração, vícios, pensamento suicida, abusos, obscurantismo, isolamento patológico, remetem à ação de espíritos malignos e não apenas, necessariamente, uma condição de saúde mental.

Por causa disso é difícil separar o que é de natureza espiritual e de natureza emocional. Frequentemente uma coisa pode afetar a outra e nesses casos cabe ao profissional de saúde ter muita expertise para saber lidar com cada situação, sem invadir o campo de atuação que não lhe pertence.

Manual do Suicídio, por Kamaitachi

Rafa Kamaitachi também é autor de uma música chamada “Manual do Suicídio”, onde ele expressa na letra os sentimentos e pensamentos de muitos jovens com ideais suicidas ou que passam por problemas de saúde mental, como a depressão.

Ao contrário do que parece, a música não ensina como se suicidar. Ela expressa que seria isso, caso o autor, que é o próprio Kamaitachi, escrevesse tudo o que pensa acerca da vida (dele?). Ou seja, sua visão de mundo ou pelo menos a forma como se sente, isto sim, seria um “manual do suicídio”.

Assim como alguns trechos da música Bob, a canção “Manual do Suicídio” também possui apelo psicológico, como alguém que utiliza a música como via de escape para lidar com os próprios dilemas. O problema disso, no entanto, é que o conteúdo desse material parece mais adequado para ser trabalhado em um consultório psicológico, ou mesmo em uma igreja, do que ser exposto como arte.

A arte por si só não é o problema, mas sim o que ela carrega, devido ao poder de influência que exerce sobre a mente de outros jovens. O simples fato da música ter sido composta com aspecto de infantilidade é outro fator preocupante, já que passa despercebida aos ouvidos de muitos pais. A mesma letra no contexto de um rock pesado ao estilo do Sepultura, certamente não teria o mesmo efeito.

Orientação aos pais

Às crianças são sugestionáveis e podem se inspirar em músicas, filmes, jogos, e no comportamento de seus “heróis”. Com isso, preciso deixar claro que a música Bob, assim como outros trabalhos de Kamaitachi de mesma natureza, como o Manual do Suicídio, tem sim o potencial de modelar e inspirar comportamentos nas crianças, desconstruindo a forma como elas enxergam o mundo através de certos valores, como o da família.

A música Bob inicialmente prende a atenção pelo ritmo e imagens infantis, gerando uma empatia na criança que escuta, por exemplo. Depois de gerado este sentimento, a criança presta atenção na letra, que vai implantando memórias nela e aos poucos vai impulsionando outros estímulos, que podem sim estar associados ao que diz a letra da canção.

Por causa disso, minha orientação aos pais é para que não deixem seus filhos terem acesso a esse tipo de conteúdo, nem mesmo adolescentes, especialmente no atual contexto cultural, onde os jovens estão sendo bombardeados por cargas emocionais negativas. Infelizmente é necessário monitorar, acompanhar e conversar sempre com os filhos.

Se seu filho ou filha já ouviu essas músicas, procure puxar o assunto com ele e tente ver qual foi a sua compreensão acerca disso, o que pensa a respeito, por qual motivo teve o interesse de ver/ouvir e em seguida oriente, esclareça conforme a minha explicação acima, sem condenações e pré-julgamentos, mas com esclarecimentos e empatia.

[Ao vivo] Ativistas tentam impedir psicóloga Marisa Lobo de falar contra o suicídio

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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