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Fala do presidente da Funarte sobre rock foi distorcida: ele ouve Metálica e Angra

A oposição ao governo Bolsonaro, infelizmente promovida em boa parte pela mídia, não perde a oportunidade de usar questiúnculas para atacar a sua equipe administrativa visando desestabilizar a sua gestão através de polêmicas fabricadas. Dessa fez foi uma fala de Dante Mantovani, o novo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) que se tornou alvo de distorção.

Na maioria das manchetes a respeito o título é: “’Rock leva a drogas, aborto e satanismo’, diz novo presidente da Funarte”. Acontece que essa não foi uma afirmação direta de Mantovani, que é maestro. O título foi retirado de um contexto que, por sua vez, não foi interpretado corretamente. 

A suposta fala de Mantovani aparece em um vídeo publicado no Youtube no final de outubro, onde ele procura explicar a suposta correlação da banda Beatles com a escola de Frankfurt, vertente de teoria social e filosófica que tinha Theodor Adorno e Max Horkeimer como principais referências.

Resumidamente, Mantovani explicou que a União Soviética utilizou a fama de artistas como os Beatles e Elvis Presley para influenciar negativamente a cultura judaico-cristã do Ocidente, especificamente dos Estados Unidos, infiltrando agentes secretos no serviço de inteligência americano (CIA) para induzir à utilização de drogas na juventude. Veja:

“Existe toda uma infiltração de serviços de inteligência dentro da indústria fonográfica norte-americana que se não levarmos em conta, não vamos entender nada. A União Soviética mandou agentes infiltrados para os Estados Unidos para realizar experimentos com certos discos realizados para crianças. Esses agentes iam, se infiltravam e iam mudando, inserindo certos elementos para fazer engenharia social com crianças. Daí passaram para música para adolescentes”

Como resultado, Mantovani explicou que o rock foi um estilo de música usado para “ativar” o efeito de substâncias como a droga LSD, que por sua vez tornavam os jovens impulsivos pelo sexo irresponsável, o que gerava gravidez indesejada e consequentemente o aborto. A prática do aborto, por sua vez, atendia aos interesses de grupos satanistas. Observe:

“Mas como (a distribuição de drogas era feita) pela CIA? Tinha infiltrados do serviço soviético lá. […] O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”

Em nenhum momento, todavia, Mantovani condena o rock como música ou diz que o rock é o culpado direto pelo uso de drogas, aborto e satanismo. O que o maestro sugeriu foi que agentes soviéticos aproveitaram o sucesso do rock para utilizá-lo como um elemento facilitador de comportamentos imorais, e isso pelo efeito natural que o gênero musical “frenético” causava no corpo dos jovens. 

Mantovani, portanto, associa o rock como elemento negativo dentro de um contexto, e não isoladamente. Ele não fala contra o gênero, mas contra um sistema ideológico que usou o gênero de forma negativa. Consumo de drogas, aborto e satanismo seriam gerados por uma cadeia de acontecimentos e não pelo rock isoladamente.

“O rock é bom”, disse Mantovani

Talvez a forma mais fácil dos leitores entenderem o contexto de fala de Mantovani no vídeo de outubro é assistindo outro vídeo dele, dessa vez publicado em 2018, onde ele diz que “o rock é bom” e que acompanhava bandas como o Metálica e Angra.

Na primeira gravação, o maestro reforça o fator fisiológico desencadeado pelo gênero musical, que é a agitação corporal, euforia, maior atividade emocional, etc., fatores que isoladamente são completamente naturais. Foi isso o que ele destacou na segunda gravação como sendo responsável por “ativar” o uso de drogas. Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=G3ThWZiN8AA

A fala do maestro Mantovani foi infeliz

Entender o contexto da fala de Mantovani sobre o rock não significa concordar com ele. É possível, sim, aceitar que o rock como gênero musical “frenético” facilita determinados comportamentos impulsivos, mas associá-lo à rede de influência soviética para impulsionar o abuso de drogas, aborto e satanismo é um raciocínio especulativo.

Isso porque no mesmo contexto em que o rock explodiu no mundo, outros gêneros musicais, como a música eletrônica, também surgiram. O soul também, como uma variante do rock, arregimentou multidões, especialmente na comunidade negra norteamericana. O country é outro estilo vibrante, e em todos esses casos a droga sempre esteve presente.

Ou seja, o abuso de drogas não é uma realidade exclusiva dos shows de rock. Desde os Beatles até hoje, todos os gêneros musicais “frenéticos” ou “dançantes” apresentam alto índice de consumo de entorpecentes nos shows onde são tocados, mostrando que a citação do rock como fator “ativador” desses comportamentos é muito mais fruto de um alarmismo conspiracionista do que de uma análise honesta da realidade.

Contudo, a explicação sobre a intenção soviética de destruir a cultura judaico-cristã do Ocidente está correta. Esse fato já foi confirmado na década de 90 pelo ex-agente soviético, Yuri Bezmenov (este não é o seu nome verdadeiro). Assista um dos seus vídeos abaixo. Na sequência, o último vídeo de Mantovani sobre a fala do rock.

https://www.youtube.com/watch?v=wozkvbecbSI

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