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Um alerta: pedofilia não é motivo de piada para ser retratada em filme de humor

No artigo desta semana quero fazer um alerta à sociedade sobre o grave erro de se associar o crime de pedofilia ao “humor”, algo feito no filme “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, do apresentador Danilo Gentilli, que teve um trecho amplamente repercutido neste final de semana.

O trecho do filme mostra dois adolescentes sendo coagidos por um homem adulto, que faz a eles uma proposta para ser masturbado. O personagem do abusador é interpretado pelo ator Fábio Porchat. Ele diz aos adolescentes que é “normal” essa prática e que seria “preconceito” recusar o pedido.

A cena é claramente uma apologia à pedofilia, e isto por dois motivos simples: primeiro, porque o abuso não é retratado como abuso, um crime e algo condenável, mas sim em tom de naturalidade, banalidade e aceitação, tanto que os adolescentes cogitam aceitar a proposta.

Segundo, porque o filme possui classificação indicativa de apenas 14 anos. Ou seja, adolescentes a partir dessa idade podem ter acesso livre a um tipo de conteúdo onde um abuso sexual de menores é retratado de forma “natural”.

Precisamos entender que a arte também precisa ser responsável. Quando um filme exibe cenas de assassinato e outras atrocidades, por exemplo, como uma guerra e etc., ele deve ter o dever de fazer isso retratando o que essas coisas significam no mundo real.

É justamente por isso que a maioria dos filmes desse gênero retratam corretamente estas situações. Ou seja, o assassinato deve ser retratado como um crime, de fato; o terror é retratado como terror, onde monstros são monstros e não seres amáveis.

Assim como é repulsivo e inadmissível a morte de uma pessoa ser banalizada em filmes que passam uma mensagem de “louvor” ao crime, aos assassinos e monstros, o mesmo acontece com conteúdos que naturalizam a pedofilia. Esse é o grande problema quando se associa o humor a estes crimes.

Assim como muitos, a minha crítica não é contra a arte e a liberdade de criação cinematográfica, mas à forma errada de retratar uma situação existente no mundo real. Este é o ponto, pois foi por causa desse erro que a apologia ficou caracterizada, uma vez que a cena de pedofilia foi convertida em piada.

Também quero destacar que os pedófilos costumam atrair suas vítimas com promessas de brincadeira, piadas e também em tom de humor. Eles usam esse artifício justamente para passar outra impressão às crianças, tentando fazer com que elas não enxerguem o abuso como um abuso, de fato.

Perceba, portanto, que até nesse aspecto o filme retrata a situação de forma muito semelhante ao que ocorre durante um abuso sexual, o que torna a coisa mais grave, pois em vez de apontar a real natureza do crime, o filme termina reforçando um dos métodos mais utilizados pelos pedófilos, que é o tom de brincadeira.

A criança/adolescente que é exposta a um conteúdo desse tipo, onde o abuso é relativizado e até naturalizado, acaba sendo induzida à interpretar a situação da forma exata como ela é retratada, o que sem dúvida contribui para a existência de crimes desse tipo.

Isto posto, encerro deixando aqui o meu mais profundo repúdio a esse filme e a todos os envolvidos em sua produção. A sociedade não pode admitir que conteúdos desse tipo sejam encarados de forma natural. Precisamos reagir e tomar as providências cabíveis o quanto antes. Essa é a minha opinião.

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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