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Pequena Valente e a educação das virtudes

Esta semana fomos tomados por uma notícia peculiar. Uma menina de 12 anos usou a arma da família para se proteger. Segundo as reportagens, ela estava sozinha quando um garimpeiro – que trabalhava próximo a sua residência – se aproximou e disse que adentraria para tomar banho num poço que fica no quintal da propriedade, quando ela gritou: “não entre”! Desobedecendo a ordem, o sujeito foi alvejado.

Ao tomar conhecimento desta história muitas questões permearam minha mente sobre a vida desta garota. Imaginação, especulações, afinal diferente da Greta Thunberg os meus sonhos não foram roubados. Aliás existe uma diferença significativa entre estas duas personagens. Todos sabem tudo sobre Greta, mas é preciso que saibam, ela é produto do propagandista (pobre menina). E o propagandista precisa que você compre o produto dele! Ao contrário, ninguém sabe nada sobre Pequena Valente (estes serão seu nome e sobrenome neste texto). Obviamente sua identidade deve ser mantida em sigilo para sua própria segurança e por questões legais. Este, no entanto, não é o cerne da questão aqui.

Para analisar fato resolvi fazer um exercício imaginativo. Não foi fácil, egressa da escola tradicional não aprendi sobre o mundo, mas a analisa-lo criticamente. A escola me ensinou a elaborar críticas sobre algo que, na maioria das vezes, eu não conhecia. “Você precisa pensar criticamente”, eles diziam. “Mas pensar sobre o quê”, eu perguntava sem nunca ter recebido uma resposta. Ainda assim vou me aventurar.

Observe que Pequena Valente mora na zona rural de uma cidade há 800Km da capital do Mato Grosso. Conhecendo a realidade do nosso país é provável que Pequena tenha uma instrução formal frágil com frequência escolar comprometida. Seus pais se empenham em lhes ensinar sobre o mundo ao seu redor, um ensino atemporal. Há cem anos eles teriam lhes ensinado as mesmas coisas. Valente poderia ser uma personagem de contos de fadas. Ela vive no mundo moral, suas leis são claras: o bem triunfará sobre o mal.    

Pequena Valente não precisa ler um discurso (escrito por terceiros) na ONU. Ela tem as narrativas, as lendas, o folclore local. Pequena não sabe o que é aquecimento global, ou veganismo e nem que usar canudinhos de plástico é crime hediondo para o propagandista que criou Greta. Mas ela sabe que ela e sua família valem cada gota de sangue e que este sague não pode ser derramado a qualquer preço. É preciso, antes, lutar e defender vida!

Como disse, Valente deve ter uma escolarização deficitária, afinal se esvaiu do local junto a sua família logo após o ocorrido. Mais um exemplo do pouco impacto moral que escola tem na vida da garota. Este é um ponto relevante: voltemos a menina Greta. Ela ficou famosa por fazer uma greve todas as sextas-feiras para alertar sobre o problema das mudanças climáticas. Observe: o idealizador da personagem Greta Thunberg também parece não se importar com a escola, afinal não vê problema numa garota faltar aula toda semana.  

Apesar de sua realidade de pouca instrução, Pequena Valente deu uma aula sobre as virtudes cardeais. Prudência, ela pensou que deveria se defender e como deveria fazê-lo. Temperança, ela sabia o limite de sua ação.  Justiça, foi honesta e cumpriu sua palavra quando gritou: “não entre”. E coragem para enfrentar o inimigo e para suportar a dor dos processos legais que virão.

Valente terá que se submeter aos juristas formados pela escola moderna. Aqueles a quem Lewis chamou de Homens sem peito, como excessos de conhecimentos, mas carentes de emoções férteis e generosas, para compreender a bravura na ação da Pequena.  E até que os eventos sejam todos elucidados, a virtuose de Pequena Valente deve ser avaliada segundo os parâmetros curriculares da educação eterna.

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