A fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre os maus servidores que atuam no poder público, continua gerando repercussão, mas não apenas negativa. Há quem apoie, ainda que indiretamente, a crítica do ministro, como o professor da Universidade Federal de Pernambuco, PhD. Emanoel Barros.
Barros é pós-Doutor em Economia pela instituição de ensino Centre Nationale de la Recherche Scientifique (CNRS) e Doutor pela Université Paris – Panthéon Sorbonne. Ele escreveu um texto na página “Docentes Pela Liberdade” (DPL), um movimento do qual é o diretor nacional de comunicação, expressando a sua opinião sobre a declaração de Guedes.
“Sou funcionário público há 12 anos de uma das mais renomadas universidades do Nordeste. Conheço bem a máquina pública. Tudo é muito lento, burocrático. Difícil para interagir com tudo que venha de fora, sobretudo empresas. Até para comprar um computador, se você não tiver a sorte de ter um projeto de pesquisa aprovado, vai depender de licitações que demoram quase 1 ano para ser aprovada para ter um sequer”, escreveu Barros.
O professor segue criticando a falta de eficiência da máquina pública, apontando de forma indireta que tal ineficiência é responsabilidade de parte dos próprios servidores, os quais seriam os “parasitas” apontados por Guedes.
“Estou ansioso para voltar a ministrar minhas aulas, mas a universidade decidiu que o semestre se inicia no início de março. Como as férias já acabaram, estou concentrado nos meus projetos de pesquisa, finalizando meus artigos (já preparei 4 só esse mês), tenho participado de umas bancas de defesas (em que fui convidado), mas minhas aulas não posso ministrar porque (sei lá quem) decidiu que tudo começa depois do carnaval”, acrescenta o PhD.
Em certo momento, o economista dá entender que o “aparelhamento político” apontado na fala de Guedes prejudica o próprio desenvolvimento científico, de modo que apenas quem adere à agenda ideológica de um “grupinho fechado” obtém celeridade em sua atuação profissional.
“Tudo foi feito para o controle ficar sempre naquele grupinho fechado com o lema ‘ninguém tira a mão de ninguém’, nivelando por baixo a sua produtividade (você é impedido pelo sistema em ser mais produtivo, em interagir com o setor privado, mesmo que tenha talento para isso)!”, afirmou o professor.
“Se ser produtivo é apenas publicar amparado no Qualis CAPES, um indicador extremamente político (onde cada área viesada pela esquerda decide o que é bom e o que não é), lamento, estamos como cientistas realmente encrencados!”, completa.
Barros encerra deixando a conclusão sobre a concordância ou não com o termo “parasitas” para os leitores, mas a sua exposição das mazelas no sistema público aponta que o mesmo concorda com a crítica do ministro Guedes, a qual não condena o funcionalismo, nem generaliza a qualidade dos serviços da categoria, mas especifica os maus profissionais e o desequilibro econômico do próprio sistema.
“Deixo com vocês a conclusão sobre se os funcionários públicos são ou não ‘parasitas’. Juro a vocês, quero fazer mais, mas o sistema onde estou inserido não permite! Luto contra a burocracia, luto contra a ideia pré-concebida de que empresas são inimigas das universidades. Sou 5% deles! O resto dos docentes está tão inserido no sistema que nem sequer tem noção do discurso que reproduzem”, conclui o professor.