Concentrando a região mais pobre do planeta, a África reúne os países onde há o pior índice de desenvolvimento humano (IDH) do mundo, tendo como consequência enorme precariedade na prestação de serviços básicos de grande importância para a população, como a saúde.
No contexto atual, o mundo vive sob o medo do novo Coronavírus, agora oficialmente chamado de Covid-19. O vírus já matou 1.114 pessoas na China em números oficiais (divulgados), infectando 43.000. Está presente em 24 países, sendo o maior número de contaminação no Japão, com 161 infectados, Cingapura (45), Tailândia (33) e Coréia do Sul (28).
Tais circunstâncias ascendem o sinal de alerta para o risco de que o Covid-19 possa “migrar” para regiões de pouca infraestrutura, como a África. Se em países de grande desenvolvimento industrial, como a China, o estrago provocado pelo vírus já foi/é grande, a possibilidade de contaminação nos países africanos pode gerar uma catástrofe humanitária sem precedentes, com inúmeros mortos.
Esse risco não pode ser descartado e o alerta precisa ser dado, pois com base nas experiências anteriores em que o continente africano enfrentou desastres, como os provocados por furacões no início de 2019, o engajamento do mundo em favor da pobreza africana não gera grandes expectativas.
A dura realidade é que à África está altamente vulnerável à disseminação do coronavírus. A empresa de transporte aéreo Ethiopian Airlines continua seu serviço na China, e cerca de 1.500 passageiros chegam do país todos os dias, muitos dos quais transitando para outros destinos africanos, segundo o CFR.
Lentidão no socorro internacional, dificuldade de acesso aos lugares mais remotos, falta de investimentos em materiais de saúde e profissionais qualificados, tudo isso poderia agravar ainda mais a situação em caso de contaminação pelo coronavírus na África.
Segundo o jornal inglês The Guardian, cientistas já consideram a chegada do Covid-19 no continente africano “inevitável”. “Até o momento, não há casos confirmados de coronavírus em nenhum dos 54 países da África, mas especialistas dizem que um caso é inevitável, dada a grande quantidade de tráfego entre o continente e a China”, diz o editorial.
China já enfrenta falta de recursos
Segundo informações da Ásia News, a China, país altamente industrializado, já está enfrentando falta de recursos no enfrentamento do Covid-19. Se este país, com os recursos e capacidade de mobilização que já dispõe, enfrenta tal dificuldade, o que pensar de como seria a capacidade de reação na África?
“Os hospitais de Wuhan carecem de suprimentos médicos: máscaras, óculos e roupas de proteção. Por causa dessa escassez, durante o trabalho por dezenas de horas, médicos e enfermeiros permanecem do mesmo ritmo, sem intervalo para almoço e sem ir ao banheiro”, diz uma relatório.
Apesar de haver uma mobilização mundial em prol do combate ao Covid-19, não é exagero dizer que às autoridades públicas, nacionais e internacionais, precisam ter um olhar especial sobre à África. Olhar esse de reação antecipada, visando a prevenção.
Esse é um apelo que deve ser feito por ONGs, autoridades públicas e governos, antes que o risco atual se converta em realidade. Em tal circunstância, considerando a discrepância da ajuda humanitária prestada aos africanos em relação a outros eventos trágicos em episódios recentes, não há dúvida de que os pobres seriam mais uma vez às maiores vítimas da tragédia.