A declaração feita por Eduardo Bolsonaro através da sua conta no Twitter, responsabilizando a China pela disseminação do coronavírus (Covid-19), tem sido alvo de muitas críticas, não apenas de opositores, mas até de aliados. Porém, a grande questão é: o deputado realmente errou?
Eduardo declarou: “Quem assistiu [a tragédia química de] Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste,mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
Ou seja, o deputado acusou a China de ter escondido informações vitais sobre o novo coronavírus logo no início da contaminação, quando o mesmo ainda estava restrito à cidade de Wuhan. Embora o parlamentar não tenha mencionado diretamente, ele também deu a entender que se referiu ao regime comunista do país, uma vez que comparou ao soviético, “ditadura”.
Certo ou errado? A resposta pode vim da própria China. Em 27 de janeiro passado, por exemplo, a revista Veja publicou uma matéria com o seguinte título: “Prefeito de Wuhan assume culpa por surto de coronavírus e oferece renúncia”. A Folha de S. Paulo também repercutiu: “Prefeito de Wuhan admite ter escondido dados sobre coronavírus e oferece seu cargo”.
O prefeito Zhou Xianwang afirmou que a resposta de sua administração ao surto de coronavírus “não foi boa o suficiente”, deixando com que 5 milhões de chineses saíssem da cidade, quando deveriam ficar isolados.
“Nossos nomes viverão na infâmia, mas enquanto for propício ao controle da doença e à vida e segurança das pessoas, o companheiro Ma Guoqiang e eu assumiremos qualquer responsabilidade”, disse Zhou em entrevista à emissora CCTV. Ora, a sua confissão é cristalina e não há o que discutir.
Diferença entre prefeitura e regime
O ponto crítico na questão, pesando contra Eduardo, é que o fato do prefeito ter assumido a responsabilidade pelo surto não significa que o regime comunista da China tenha atuado diretamente para encobrir esses dados do mundo. A culpa, neste caso, pode se resumir apenas ao prefeito e sua gestão.
Entretanto, ao associar a pandemia ao desastre químico nas usinas nucleares de Chernobyl, Eduardo não fez uma conjectura absurda, mas coerente do ponto de vista ideológico. Não é novidade alguma para qualquer conhecedor do regime comunista que tal sistema é “fechado” e controlador, sendo comum a restrição de informações vitais para o pais.
A declaração de Eduardo Bolsonaro foi grave e delicada? Diplomaticamente, sim. Mas tem fundamento na verdade dos fatos? Historicamente, sim também. Logo, não há motivo para fazer estardalhaço, senão para quem possui alguma simpatia com regimes políticos ditatoriais.