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A objetificação sexual da mulher também tem sido estimulada por algumas mulheres

A retratação da figura feminina como uma espécie de objeto sexual de consumo masculino é algo deplorável que ainda persiste em nosso meio, estando presente em todas as camadas sociais. Não é por acaso que isso alimenta uma indústria cruel e monstruosa, que é a da pornografia.

No texto de hoje quero ir além da esfera masculina quanto a esse tema, demonstrando que algumas mulheres, infelizmente, também estimulam esse tipo de visão, sendo algo que precisa ser alertado e combatido na mesma proporção com que condenamos e repudiamos atitudes sexistas de alguns homens.

Sei que é um tema delicado, porque muitas mulheres confundem empoderamento sexual com baixaria comportamental, achando que ser empoderada significa se sentir livre o suficiente para transformar o próprio corpo numa espécie de cartaz erótico, ou mesmo de negar a simples natureza da feminilidade, o que inclui a maternidade, por exemplo.

Isso acontece porque o feminismo deturpou o real sentido de poder feminino. É por isso que eu, particularmente, rejeito o conceito de “empoderamento” usado pelas feministas, de modo que incluo essa palavra aqui, mas com outra dimensão.

Mulher empoderada, para mim, é a que tem consciência dos seus direitos e deveres não apenas na esfera civil, mas também na sexual, o que também implica em assumir a responsabilidade pelo que somos, queremos e podemos fazer.

Neste sentido, não faz parte de uma mulher realmente empoderada, por exemplo, querer abortar o próprio filho após fazer sexo, pois a responsabilidade pelo que somos passa pela consciência de que podemos gerar uma vida durante o ato sexual.

Da mesma forma, não faz parte do que entendo por empoderamento, qualquer comportamento que retrata a imagem da mulher de forma sexualmente objetificada, artificial e destituída de qualquer valor intrínseco pelo que somos enquanto pessoas.

É o que vemos, por exemplo, nas apresentações musicais de celebridades como a Anitta, ou nos desfiles das escolas de samba durante o Carnaval, pois tudo se resume a uma performance onde a ênfase está na erotização do corpo, em sua exibição e exploração como objeto de desejo.

Nesses casos, a música ou o desfile é o que menos chama atenção, motivo pelo qual nem é preciso ter algum talento realmente notável. Basta exibir o corpo e fazer poses provocativas simulando uma relação sexual, algo facilmente encontrado por predadores sexuais em qualquer prostíbulo de esquina.

Qual é a mensagem que esse tipo de “cultura” transmite sobre nós, mulheres? Não vejo outra coisa, senão a de objetificação. O próprio ideal de beleza, para quem defende essas exibições apenas como uma demonstração disso, penso que também é distorcido e rebaixado a uma visão animalesca sobre a figura da mulher.

Podemos demonstrar beleza e sensualidade de muitas formas, mas sem precisar descer a esse nível. Quando a exploração do erotismo se torna a principal linguagem, o meio usado pela mulher para se expressar, chamar atenção e fazer algum sucesso, a mensagem que transmitimos ao mundo é que isso é tudo o que somos.

Nada justifica as atitudes sexistas de alguns homens, igualmente deploráveis, mas também não podemos deixar de reconhecer que certas mulheres e culturas (como a do Carnaval) contribuem para isso. É desonestidade fingir que ambas as coisas não possuem alguma conexão.

Por fim, é chato dizer e encarar a realidade, eu sei, porque isso nos obriga a fazer uma autocrítica não apenas sobre o tipo de mulher que somos, mas também sobre a cultura que construímos e estamos alimentando. Entender isso é um passo indispensável para vivermos em um mundo melhor.

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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