Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro que renunciou ao cargo em abril de 2020 fazendo acusações pitorescas contra o presidente, discursou hoje durante a sua cerimônia de filiação ao Podemos, partido do senador Álvaro Dias. E como era esperado, o homem que já foi visto como um herói pela maioria dos brasileiros, surpreendeu a zero pessoas ao falar praticamente a mesma coisa que todos os políticos vêm falando em período eleitoral, desde à fundação da República.
Moro centrou seu discurso no combate à corrupção e em frases genéricas de efeito, como “nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar” e “voltei ao Brasil para ajudar a construir um projeto que é de muitos”, ou ainda que o Brasil deve ter “uma economia verde, sustentável e de baixo carbono.”
“Nossas únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade e sem malícia. Respeitaremos aqueles que gostam e aqueles que não gostam de nós. O Brasil é de todos os brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades alternativas ou de fomentar divisões ou agressões de brasileiro contra brasileiro”, afirmou o ex-juiz.
Em outro trecho, Moro também declarou: “Precisamos falar sobre corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas isso é impossível. Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição. É um projeto de justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas de poder sejam capturadas e dessa forma viabilizar as reformas necessárias para melhorar a vida das pessoas.”
Moro: o que há de novo?
Por mais polido que tenha sido o discurso de Moro, a verdade é que nele não há absolutamente nada de diferente em relação aos milhares de discursos políticos, de caráter retórico, já feitos por pré-candidatos e candidatos a cargos públicos no Brasil em toda a sua história.
Durante esse período, todos prometem basicamente as mesmas coisas: combater a corrupção, investir na educação, erradicar a fome, gerar empregos e promover a união. São exatamente esses mesmos elementos que podemos extrair do discurso de Moro. O que diferencia é a retórica, o momento do país e o rosto na frente das câmeras.
Outra diferença está no fato de que Moro não possui vida política pregressa, o que é ruim, pois isto significa que votar nele é muito mais uma aposta do que uma decisão racional. Uma pessoa como Jair Bolsonaro, por exemplo, possui décadas de exposição pública, de modo que é impossível não saber quais são as suas pautas, sua forma de pensar e agir.
Para reverter o ambiente de incertezas a sua volta, Moro terá que se expor como nunca em toda a sua vida; falar sobre tudo, assumir posições e interagir com o povo real e não com os bajuladores partidários. Até o momento, os indicativos não são bons, pois o ex-ministro já adotou uma estratégia de marketing cafona, incluindo postagens que parecem mais um ensaio narcísico do que de simples divulgação do seu nome.
Se continuar nesse ritmo, a candidatura de Moro poderá até ter um início meteórico, igual a do tucano João Doria em 2018, seu entusiasta, mas exatamente como ele também minguará com o passar do tempo, especialmente quando o ex-juiz começar a abrir a boca para falar de temas que fogem da sua seara profissional, e tudo isso por um simples motivo: o Moro político não tem nada a ver com o Moro da Lava Jato. Duvida? Espere e verá!