A vida dos famosos dificilmente consegue escapar dos holofotes das câmeras, especialmente na era digital, onde quase tudo é compartilhado em fração de segundos. Mas, será que não há limites para determinadas atitudes que podem corroborar para uma exposição ainda maior, e por isso prejudicial, da intimidade familiar?
Um casamento de 25 anos que, agora, termina com um divórcio conturbado após a apresentadora Ana Hickmann denunciar o marido, Alexandre Correa, por egressão física. No meio disso tudo, uma criança de 9 anos que, independentemente das razões de ambos os lados, certamente ama os dois, pai e mãe.
Nesta triste história entre Ana e Correa, uma coisa pode nos chamar atenção: a velocidade com que o caso veio a público, bem como o seu nível de exposição, incluindo entrevistas exclusivas com acusações e detalhamento dos fatos.
Antes de mais nada, deixemos claro que não estamos abordando a natureza da denúncia. A iniciativa de Ana perante um caso real de agressão foi correta e não há o que discutir quanto a isso. O questionamento aqui, porém, é sobre a aparente falta de discernimento dos pais em tratar o ocorrido na frente das câmeras, sem levar em consideração as possíveis consequências psicológicas sobre o filho.
Eis qual é o nosso ponto: denunciar às autoridades competentes uma situação de violência familiar não implica, necessariamente, em levar o caso para a TV, ainda mais de forma precoce, enquanto trâmites processuais ainda estão em curso.
Isto porque, obviamente, quem resolve casos desse tipo, do ponto de vista legal, é o poder público e não a opinião pública. Não estamos tratando, portanto, de omissão ou silêncio, mas de ponderação perante um trauma familiar que poderá se tornar ainda pior devido à exposição, aparentemente, excessiva em dado momento.
Mas, para quem seria pior? Para a criança, que diferentemente dos pais, que podem se divorciar e se tornar “ex” um do outro, não pode deixar de ser filho. Isto é, mesmo que Correa tenha cometido o crime de violência doméstica, ele continuará sendo o pai do filho que teve com a Ana, e nada mudará essa realidade.
Como ficará, então, a cabeça desse filho diante de tamanho escrutínio público envolvendo o nome dos seus pais? Mais do que isso, diante de uma briga pública envolvendo ofensas e acusações, não nos autos de um processo judicial que poderá tramitar em segredo de Justiça, mas na frente da TV?
Um crime não deixa de ser crime ao ser investigado em sigilo, nem mesmo a punição deixará de existir, caso o crime seja comprovado. A natureza essencial da denúncia, portanto, que é a autoproteção e a aplicação da Lei, estaria garantida do mesmo jeito, independentemente do caso vir ou não a público.
Uma coisa é a imprensa explorar a situação e, por conta própria, noticiar os fatos, e outra são os próprios envolvidos fazerem questão de se digladiar em praça pública. A publicidade excessiva nesse tipo de caso, portanto, apenas potencializa os efeitos traumáticos do conflito familiar, e quem sai mais prejudicado nisso tudo são as crianças.
Por fim, é impossível saber o que se passa na mente de cada um dos envolvidos em um trauma como esse, pois 25 anos não são 25 dias, e se a situação chegou a tal ponto, certamente os problemas já vinham se arrastando. Torcemos para que tudo seja devidamente apurado, as responsabilidades cobradas e a criança seja preservada.