Em mais uma manifestação de cunho político protagonizada por um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), agora foi a vez do ministro Edson Fachin chamar atenção ao dizer que a democracia brasileira estaria sendo ameaçada por um “populismo totalitário”, o qual estaria desenhando um cenário de “golpe”.
A declaração de Fachin ocorreu durante uma entrevista para o Correio Braziliense, quando foi questionado sobre a importância da união em torno de um projeto suprapartidário para mitigar os efeitos da pandemia nos próximos anos.
“É imprescindível”, disse o ministro ao falar da união suprapartidária, referindo-se ao cenário político do país. “Lamentavelmente, há mais parasitas do que hospedeiros. O populismo totalitário ronda a democracia brasileira. É fundamental esse alerta, porquanto é antessala do golpe”, completou.
Na sequência, mesmo não sendo explícito e nem citando o nome de Bolsonaro, Fachin deu a entender que se refere ao apoio popular ao atual presidente da República, quando fala de “visão personificada do povo” como algo supostamente ameaçador.
“O mais grave é essa visão personificada do povo em contraste com as instituições. As eleições de 2022 trazem à tona um imperativo categórico: preservar o sistema eleitoral brasileiro”, disse Fachin, que completou:
“Precisamos sair da crise sem sair da democracia. O caminho passa pela política e pelo espaço público, com atuação franca e desinteressada. Cada gesto, cada comportamento, conta como exemplo. É mais do que hora da comunhão na diversidade. O país não pode esperar mais. Saídas passam por elevar o grau de institucionalização, pelo urgente enfrentamento dos efeitos assimétricos da pandemia.”
Opinião Crítica
A fala de Edson Fachin sobre um suposto “populismo totalitário” como “antessala do golpe” é o que há de real ameaça à democracia brasileira, pois não se trata de um cidadão qualquer fazendo tal declaração, mas sim um ministro da mais alta Corte do país, o qual tem em suas mãos o poder de tomar decisões capazes de afetar o rumo da nação.
É grave, porque Fachin fala politicamente e em seu próprio nome, endossando uma narrativa inventada, pois onde está a materialidade do tal populismo totalitário que ele alega existir? Quantos cidadãos estão com suas liberdades prejudicadas em função de decisões tomadas, por exemplo, pelo governo federal?
Em que mundo um “golpe” estaria sendo desenhado em um governo que defende à adição do voto impresso ao eletrônico, e auditoria, como recursos a mais de segurança e transparência eleitoral? A narrativa de Fachin, portanto, não possui qualquer sustentação no mundo real.
A verdade é que, o que Fachin chama de “populismo totalitário” é nada mais que o apoio espontâneo de grande parte da população ao presidente Jair Bolsonaro, e isso pelo fato dessas pessoas se identificarem com o tipo de liderança exercida por ele. Se esta relação se mantem dentro da legalidade, não há o que temer.
Por outro lado, são declarações como essa do ministro Edson Facin que estão fazendo a população reagir, pois elas indicam que o viés politizado de figuras que deveriam se portar de forma neutra é o que realmente constitui uma ameaça à democracia brasileira. Se existe uma “antessala do golpe”, como acredita o ministro, ela não está no Planalto, mas pode estar no STF.