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Marxismo e incesto: a disputa entre Olavo de Carvalho e Christian Dunker

Há aproximadamente 1 ano o professor Olavo de Carvalho destacou alguns trechos da obra de Fernando Hadad, em seu livro o ex-ministro da educação baseia-se nas ideias da Escola de Frankfurt. Essa “escola de pensamento” utiliza-se de conceitos psicanalíticos mesclados à teorias sociológicas. Segundo Olavo a obra do ex-ministro é uma releitura de Horkheimer para os nossos dias que, entre outras coisas, expressaria em uma linguagem técnica argumentos que corroboram para a erotização precoce de crianças: o incesto envolvendo mães e filhos.

Eu acompanhei grande parte da discussão, me lembrei das aulas e seminários sobre o mito do Édipo na pós-graduação, por isso me considero no dever de contribuir para essa discussão que envolve uma problemática relacionada ao bem-estar público.

Muito bem, em primeiro lugar é preciso dizer que essa noção de incesto não procede, apesar de chocar as sensibilidades dos leitores, mas realmente o incesto é algo mais profundo e pior do que Olavo de Carvalho tenta destacar para o grande público e Dunker tenta desesperadamente desconversar. 

O incesto está relacionado com a violação dos limites que definem, isto é, que estabelecem uma medida para o homem voltada à seguinte questão: “O que é o homem?”. Durante muitos anos os gregos antigos não estabeleceram pretensões universais, o monoteísmo não havia penetrado no mundo antigo ainda, então prevalecia realmente à ideia de que: “o homem é a medida de todas as coisas”.

Como as instituições jurídicas pertenciam às cidades gregas, cada cidade estabelecia uma régua, portanto, uma medida para enquadrar o seu cidadão ideal. Filmes como 300 de Esparta e Alexandre o Grande exprimem essas situações. Assistimos cenas nas quais os homens de Athenas são considerados afeminados pelos espartanos e, estes por sua vez são considerados incivilizados pra os Atenienses. Ou seja, traços humanos considerados normais em uma cidade são tidos como obscenos em outra cidade e assim por diante. Sem existiram, contudo, pessoas que suas posições sociais e ações, heroicas ou criminosas, não compartilhavam dessas medidas comuns pertencentes somente aos cidadãos.

A existência dessas pessoas representava uma ambiguidade perigosa para a cidade; isto é assim, pois esses traços desmesurados aproximavam demais os homens dos deuses, por isso os heróis eram chamados “semideuses”, em geral os heróis são filhos de uniões proibidas entre homens e deuses, que se transformavam em animais para possuir os mortais a fim de gerar descendências hibridas. Curiosamente é daí que vem a ideia de “raça superior” nos regimes nazistas e comunistas, isto é, tipos humanos fora das medidas comuns.

Agora, como os deuses pertenciam ao culto religioso da cidade, então a mera permanência dessas pessoas “desmesuradas” ameaçava constantemente a distinção entre o sagrado e o profano. Tal fato colocava em xeque os sistemas referenciais da cultura, incluindo a própria estrutura da linguagem.

Notem que as palavras ainda não possuíam correlação com conceitos universais, por isso elas estavam constantemente ameaçadas de perderem seus sentidos, por exemplo, um homem agindo desmesuradamente com muita coragem faria com que a palavra ‘coragem’ caísse do mundo dos deuses em suas próprias costas através de sua fama.

Muito embora a cidade necessita-se de pessoas realizando grandes feitos corajosos, ao longo do tempo, e, considerando a finitude dos seus homens renomados, as pessoas deixariam de respeitar os deuses apegando-se demais a fama desses heróis, sábios, reis e nobres. O resultado seria a destruição total: os cidadãos esqueceriam suas religiões, implicando na perda do significado das palavras cujos sentidos vinham direto dos deuses que eles cultuavam. Assim, de tempos em tempos a cidade precisava livrar-se dos seus excessos. 

Em tempos primitivos esses excessos desmesurados (incestuosos) eram oferecidos como sacrifícios humanos aos deuses da cidade, porém os legisladores substituíram esses ritos tidos como “bárbaros” pelos ritos democráticos que vão, séculos depois no renascimento, fornecer os fundamentos para a nossa democracia moderna. Embora hoje os aspectos religiosos do rito democrático tenham sido apagados, ainda mantém-se intacta a ideia de que o poder precisar ser fracionado não podendo permanecer muito tempo nas mãos de seres humanos mortais.

Essa ideia não pegou no Brasil uma vez que a corrupção é um meio de políticos manterem-se exercendo poder clandestinamente. A ideia de democracia contrasta com as tradições do Oriente que estabelecem poderes ilimitados aos seus reis, aproximando-os muito do conceito freudiano do pai da horda primitiva, que gozava de amplos poderes obscenos e incestuosos sobre seus filhos. 

Voltando aos tempos atuais: sendo a Escola de Frankfurt profundamente pessimista, especialmente em relação à cultura ocidental e a possibilidade de regeneração moral do homem, seus teóricos acreditam que as barreiras morais ocidentais cristãs, atreladas à tradição monoteísta e ao edifício filosófico platônico grego, incluindo aí as democracias cristãs, já foram destruídas pelo sistema capitalista.

Nessa perspectiva, a religiosidade não passaria de um fetiche feminino, pois as mães de família seriam o último bastião da cultura cristã, sendo o dever ético das politicas esquerdistas a aceleração do processo de derrubada das barreiras da moralidade com a justificação de que criariam uma sociedade de semideuses a partir das classes marginalizadas. Sabemos que esses “semideuses” não passam de psicopatas como Lula, Nicolas Maduro, Stalin que, então, possuiriam carta branca para agir “além do bem e do mal”.

Portanto, incesto não são caricias eróticas entre mães e filhos como a discussão entre Dunker e Olavo fazem parecer, sabemos que sim; esse sentido ficou marcado no senso comum devido à popularidade do mito do Édipo. O que os frankfurtianos entendem da psicanálise (errado e misturado a leituras erradas de Nietzsche) é que a supressão das barreiras morais criaria um novo tipo humano, mais pleno de seus potenciais psíquicos; um homem “sem recalque”, em contraste ao homem burguês e seu suposto cristianismo de fachada.

Eu acredito que os resultados desses projetos esquerdistas somente tendem à repetição do que a tradição bíblica chama de “Pecado do Bezerro de Ouro”: Orgia e violência visando apagar as barreiras e a dignidade entre os homens favorecendo apenas uma pequena elite de aproveitadores sociais. Sim, porque os semideuses na era moderna não precisam colocar seus atributos à prova em guerras homéricas, mas apenas enriquecer a custa do povo. 

Em suma, incesto precisa ser entendido em seu contexto mais profundo, como a abolição da diferença entre o homem, o animal e do divino (com letra minúscula mesmo), em termos clínicos: a frequência mental dos psicopatas.   

 

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