A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a suspeita de crimes de responsabilidade na gestão da pandemia parece não estar nada satisfeita com o que tem ouvido dos depoentes durante as oitivas, iniciadas há um mês. Por isso, senadores como Renan Calheiros querem agora implementar uma nova ferramenta: uma agência de checagem!
A ideia partiu de conversas iniciais entre alguns senadores oposicionistas, vindas à tona numa fala de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, e Alessandro Vieira (Cidadania-SE):
“O apelo que faço é que se encontre algum mecanismo nesta CPI, que pode ser o de checagem de fatos, que já foi aventado pelo relator Renan Calheiros, que pode ser um grupo de, enfim, de especialistas convocados pela CPI… Mas é indispensável que a gente possa repor a verdade a cada loucura que é divulgada, sob pena de prestarmos um desserviço”, disse Randolfe.
Ele completou: “Queria pedir um rápido informe do relator obre as providências requisitadas por esta CPI para a checagem de fatos inverídicos, que desinformam os brasileiros e brasileiras que estão assistindo esta Comissão Parlamentar de Inquérito”.
Diante disso, Renan Calheiros, relator da CPI, disse que providências já haviam sido tomadas: “Senador Randolfe, eu queria aproveitar a oportunidade e informar a todos que nós requisitamos à Agência do Senado Federal a composição, a designação de algumas pessoas para, juntamente com consultores e com assessores da comissão, compor essa agência de checagem, que instantaneamente vai colaborar com a CPI, mas, sobretudo, com a verdade ao aclarar essas circunstâncias todas”, disse ele, segundo a Oeste.
Quem define a verdade?
A “nobre” iniciativa dos senadores parece uma piada, sim, porque durante o curso da CPI os interesses políticos dos que conduzem a Comissão parece ter ficado explícito, especialmente do relator e presidentes da mesma, os quais já verbalizaram diversas vezes julgamentos prévios acerca do governo federal.
Com isso, não há como imaginar que uma agência de checagem elencada pelos próprios senadores possa atuar de forma imparcial. Além disso, inúmeros fatos tratados na CPI, como o uso de medicamentos preventivos, não possuem consenso na comunidade científica e profissional.
Dessa forma, reduzir a complexidade de alguns temas à narrativa de “verdadeiro” ou “falso” é nada mais do que politizar ainda mais a questão. A estratégia, aparentemente, é criar um dispositivo “oficial”, uma espécie de julgador das narrativas, para que não seja mais permitido divergir.
Não é novidade alguma, também, que boa parte da imprensa possui um viés oposicionista, de modo que os tais “checadores profissionais” muito provavelmente sairão desses redutos, motivo pelo qual não será surpresa alguma ver aliados do governo, quer sejam senadores ou depoentes, sendo taxados de “mentirosos” diante de todos.