Uma reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo, veiculada neste domingo (10), afirmou que um dos sobreviventes do incêndio que matou 10 jovens jogadores no centro de treinamento do Flamengo citou em depoimento à polícia uma “gambiarra” em um aparelho de ar condicionado do local. Segundo as investigações, a origem das chamas aconteceu em um aparelho do mesmo tipo. Não ficou claro se o ar condicionado citado no depoimento é o mesmo envolvido na tragédia.
Segundo esse depoimento, o aparelho de ar condicionado seria menor do que o buraco na parede. O espaço que sobrou teria sido preenchido com pedaços de madeira, plástico bolha e espuma. De acordo com Moacyr Duarte, especialista em segurança ouvido pela reportagem, essa situação pode ter contribuído para que o ar entrasse por frestas na parede e alimentasse as chamas.
“Esse tipo de ar condicionado tem a parte do condensador fora do ambiente, ele passa exatamente sobre o sanduíche do material isolante. Temos um acabamento padrão de alumínio, que tem característica de resistência de passagem de calor. Se não houvesse isso ou se tiver a possibilidade da chama gerada entrar em contato com o material que está dentro do sanduíche, o que vai acontecer é que vai estabelecer uma queima semelhante a um forno de carvão. Ou seja, uma queima com muito pouco ar”, explicou ele.
“À medida que vai tendo a evolução da linha de queima para cima, você vai puxando o ar pelas frestas. Isso vai alimentando aquela combustão lenta até que, quando chegar na extremidade da junção de placa, o próprio calor gerado começa a dilatar as frestas e o ar entra”, completou.
As paredes do alojamento onde estavam dormindo os adolescentes eram feitas de duas placas de metal e, entre elas, um isolante térmico e cáustico, a espuma de poliuretano. Ao queimar, esse material, que é o mesmo envolvido na tragédia da boate Kiss no Rio Grande do Sul, em 2013, libera o gás cianeto, uma substância extremamente tóxica.
Nos depoimentos, os sobreviventes relataram muita dificuldade para acordar, como se estivessem desmaiados, e também para despertar os colegas, precisando até mesmo dar tapas em alguns deles. Segundo os depoimentos, eles ficaram bastante debilitados pela fumaça.
Em nota oficial divulgada neste domingo, o Flamengo afirmou que o poliuretano utilizado entre as chapas metálicas das paredes do alojamento não foi um propagador do incêndio, já que possui “característica auto-extinguível”.
Outro ponto levantado pela reportagem foi que só havia um monitor de plantão, que em seu depoimento disse que ouviu uma explosão e, ao sair do local onde estava, ao lado do alojamento, já encontrou tudo em chamas. De acordo com o Conselho Nacional da Criança e do Adolescente, é preciso um monitor para cada 10 menores tutelados, além de uma equipe noturna acordada e atenta a qualquer movimentação.
O caso
O incêndio aconteceu nas primeiras horas da última sexta-feira (8). Os bombeiros foram acionados às 5h17 (horário de Brasília). O fogo atingiu a ala mais velha do CT, que servia de alojamento para as categorias de base do clube e recebia jogadores de 14 a 17 anos de idade. O local seria desativado e demolido nas próximas semanas. Autoridades do Rio de Janeiro trabalham com um problema no sistema de ar condicionado do alojamento como principal hipótese para o ocorrido.
As vítimas
Foram confirmados dez mortos e três feridos. As vítimas foram identificadas como Christian Esmeio Candido (15 anos), Vitor Isaías (15 anos), Jorge Eduardo (15 anos), Pablo Henrique da Silva (15 anos), Bernardo Pisetta (14 anos), Arthur Vinicius (14 anos), Athila Paixão (14 anos), Gedson Santos (14 anos), Rykelmo Vianna (16 anos) e Samuel Thomas Rosa (15 anos).