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A demonização da política pelos evangélicos

Quando o bom exercício da política como arte do possível acontece, a nação ganha inclusive com a participação da Igreja

Estou lendo alguns textos de pastores falando sobre o assunto de crentes ou pastores que se envolvem em ”política”. Vamos lá entender a diferença entre política e politicagem.

A ciência política é bem definida numa frase do genial Otto von Bismarck: ”Política é a arte do possível”. Concordo, assino! Política é dialogar sobre vários temas com pessoas diferentes, opiniões diferentes e tornar possível uma unidade que visa aprovar projetos, leis que beneficiam a sociedade, a cidade, o país.

Sim é possível fazer política como boa ciência que soma na evolução da nação. O ser humano é em si um ser político, não é possível sair de casa sem realizar ações diárias sobre política, desde da padaria do seu José até o seu trabalho.

Sim a Igreja não pode ser diferente. A Igreja foi construída pela mão de Deus e seu plano redentivo ao longo da história humana. Deus estabeleceu governos para o bem e para o mal. Davi é o melhor exemplo da bivocacionalidade: ‘Rei e Sacerdote’.

No NT temos Cristo afirmando sobre nossos deveres para com Deus e cívicos, ”Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”; O apóstolo Paulo usou de sua retórica política quando os acusadores chegaram, acusaram-no de haver tentado profanar o templo e de ter criado uma revolta civil em Jerusalém (At 24:1-9).

Félix, procurador romano, exigiu mais provas do tribuno em Jerusalém. Mas antes que estas chegassem, Félix foi substituído por um novo procurador, Pórcio Festo. Este novo oficial pediu aos acusadores de Paulo que viessem de novo a Cesaréia. Ao chegarem, Paulo fez valer os seus direitos como cidadão romano de apresentar seu caso perante César. Isto é a boa ciência política de valer os seus direitos pela a boa retórica.

Eu sou calvinista, e não gosto do termo porque parece ser uma colocação sectária. Aprecio a Escola Holandesa e também toda história que envolve João Calvino e suas posições sobre políticas públicas.

Começando por Calvino, posso afirmar que o reformador não entendia a política fora da fé cristã, mas como elemento que glorificava a Deus. Calvino era pastor e no entanto se envolveu diretamente na construção de uma nova Genebra; A Escola Holandesa entendeu bem a visão do reformador de Genebra e construiu uma Holanda próspera na base da teologia das esferas, elegendo ao cargo de Primeiro Ministro da Holanda o grande teólogo Abraham Kuyper. kuyper não entendia a política como fora do conjunto cristão, mas como uma esfera das muitas que serviam para glorificar a Deus.

Entendo que pastores dividindo sua vocação para exercer um cargo público ainda é reprovável no Brasil por muitos motivos, um deles é o péssimo testemunho da bancada evangélica tendo sua grande maioria representativa respondendo por processos criminais; mas também entendo que o cristianismo evangélico está ainda contaminado pelo dualismo, maniqueísmo e outros ismos.

Política não é politicagem, e em relação a politicagem é bem definido os elementos: A arte dos conchaves obscuros, do puxar tapete, da corrupção, da propina e de tantas outras coisas que destruíram a visão do brasileiro de ver a política como a arte do possível.

Não sou contra ao pastor que deseja contribuir com o pais pela boa ciência política, olhem o bom exemplo ( até agora) Milton Ribeiro o Ministro da Educação. Ele é formado em Direito e Teologia, mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (onde foi vice-reitor) e doutor em Educação pela USP.

Além disso, trabalhou como advogado e atua como pastor da Igreja Presbiteriana em Santos (SP). É sábio ter prudência com relação aos extremos sobre o tema. Portanto devemos refletir sobre a arte do possível para os cristãos que desejam contribuir com sua nação em cargos públicos.

Heuring Motta
Análises sobre o cenário da política e assuntos de interesse público. Por: Heuring Motta - Teólogo e professor, especializado em Hermenêutica, Ciências Políticas e Logoterapia pela Universidade Católica de Salvador. É também colunista do Instituto John Owen. Casado e pai de uma filha.
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