Uma cena lamentável contra o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ocorrida na noite da última segunda-feira (22), no Pará, mostrou o quanto em nome de pautas políticas muitos militantes já perderam o bom senso e a capacidade de respeitar a segurança até mesmo de crianças.
Weintraub estava com a sua esposa e três filhos pequenos, jantando em um local público, em Santarém, no Pará, onde passa uma semana de férias com a família, quando foi alvo de agressões verbais promovidas por um grupo de militantes. Nas gravações que circulam nas redes sociais é possível ouvir os gritos de “fascista” e “canalha”, entre outros.
“Nossos três filhos pequenos de férias, jantando comigo e minha esposa em uma praça. Advinhem… os mesmos que se dizem defender os direitos humanos nos cercaram… as crianças ainda estão chorando!”, escreveu Weintraub em sua rede social.
“Covardes!!! Chê matou um menino de 9 anos que ousou interceder pelo pai. Lembrei do episódio. Meus filhos ficaram comigo, não correram, mas estão chorando. Não existe respeito pela família, mulher, crianças. Chê era isso, o paradigma do mau caráter. Não tenho medo!”, completou o ministro.
Passou do limite
Representantes da esquerda também já foram hostilizados por populares em situações semelhantes. Até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes, já foi alvo de protestos durante uma jantar. Todavia, há duas diferenças marcantes que precisamos listar.
Em primeiro lugar, não se trataram de protestos organizados por militantes, mas por populares. No caso acima, envolvendo Weintraub, é possível observar que foi um ato planejado. A presença de cartazes, microfone e trajes típicos indígenas indicam um ato pensado como forma de protesto.
Em segundo, a presença de crianças pequenas na ocasião muda completamente o tipo de ação. Talvez um ato claramente pacífico, apenas com cartazes, coubesse no momento, considerando a liberdade de expressão como um direito garantido a todos. Mas agressões verbais direcionadas ao ministro? Não!
Os militantes perderam a razão no tocante ao direito à manifestação quando desprezaram a presença dos filhos do ministro, que por lei devem ter a integridade física e psicológica protegidas, bem como a de identidade. Com isso, eles não só cometeram uma agressão contra Weintraub, mas também contra às crianças, conforme a Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990, do ECA.
Por fim, também chama atenção a decisão do próprio ministro de se expor publicamente com a sua família, uma vez que o ambiente político no Brasil se encontra ameaçador. É possível notar a falta de policiamento para conter os manifestantes. Caso a situação fugisse do controle, seria possível garantir a integridade física do ministro e seus familiares?
Agredido, sim
É necessário que os termos sejam utilizados corretamente, a fim de que esse tipo de ação não se torne banal. Aos poucos, ataques dessa natureza estão se tornando comuns e isso tem levado ao agravamento deles, como a tentativa de assassinato do atual presidente Jair Bolsonaro, no ano passado.
Xingamentos também são formas de agressão e não por acaso são tipificados em lei (injúrias). É necessário chamar de agressão, sim, manifestações como essas, para que o peso da palavra surta o seu devido efeito.
Caso contrário, se a grande mídia tratar agressões verbais como simples “manifestações” ou “hostilidades”, considerando o acirramento do debate político no Brasil, elas vão se repetir e evoluir paulatinamente, até que agressões físicas também sejam cometidas com banalidade, como já foram em diversas ocasiões.