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O conservadorismo e a “desguruficação”

Vejo o tal ‘conservadorismo’ sendo defendido por pessoas que leram dois ou três livros (sendo otimista) de pensadores. Estão engessando e difundindo uma ideologia a partir desta visão curta do que é a natureza do pensamento.

Meu ceticismo em relação a esta turma que se diz de direita, se encontra naquilo que René Girard já avisava: ”O ceticismo sem nuanças não leva em conta a própria natureza do pensamento”. 

O que vejo hoje no Brasil é uma tentativa vulgar de materializar o conservadorismo, uma pedra bruta que se encontra longe da sua formosura, de ser uma linda joia na história do Brasil. Mas, porém, já avançamos alguma coisa, os livros estão aí e é preciso mergulhar no conservadorismo para entender seus tons.

O culto à personalidade está envenenando o surgimento sólido do conservadorismo. Perigo é o caminho desta direção!

É preciso desde já um processo de “desguruficação”, que Viktor Frankl chamava de desmontar o culto em torno de um líder, um guru que se torna oráculo de todos os temas e faz de si uma seita. O conservadorismo é enraizado na prudência, e confiar em homens não é prudente.

Tudo tem o seu tempo, existe o tempo do aluno seguir seu próprio caminho, ser grato ao mestre pela experiência vivida, mas jamais canonizá-lo. No Brasil, aqueles que lutam contra o socialismo estão com medo de se desgarrar dos tais ”pensadores” e começar a pensar por si, como adultos – sempre é bom relembrar às palavras de Edmund Burk:

”É o medo o mais ignorante, o mais injusto e cruel dos conselheiros”.

Desconfie sempre das áureas imputadas em mestres, daqueles que rejeitam quaisquer críticas construtivas, que imputam em si mesmos o ”sempre tenho razão”, que não admitem erros, e assim como o guru Osho (foto acima), aquele indiano charlatão que criou uma seita nos Estados Unidos – para encobrir seus erros, colocava culpa nos seus próprios alunos, nos seus discípulos. Sempre tinha uma desculpa para dizer que ”tinha razão”.

Prudência deve ser a palavra chave de todo pesquisador sincero. Temos que desconfiar de qualquer líder ou mestre que se auto declare o oráculo de todas as coisas. É preciso perceber os sintomas que proporcionam um culto à pessoa, é urgente examinar até que ponto fomos manipulados, esvaziados e reprogramados para não pensar no contraditório.

Se queremos uma opção concreta, longe deste culto à personalidade, ao messianismo simbiótico – é salutar ter uma via que possa restaurar a educação, a academia, a sociedade e cultura – sim, precisamos ir mais longe nos estudos.

Uma opção seria núcleos de estudos com amigos, reunir um grupo com a meta de ler um livro a cada mês e debater sobre ele. Estamos longe desta consciência educadora, mas alguém precisa tomar a iniciativa.

Aqui na Bahia criamos um grupo que começou na minha casa e hoje se tornou o Instituto John Owen, que conta com quatro anos de existência. Por lá muitos alunos já se formaram e estamos avançando ainda mais na missão de educar nosso povo. Você pode começar aí na sua casa ou na casa dos amigos um núcleo de estudos do pensamento conservador. Faça a diferença, faça sua parte.

Não é para formar uma militância, a missão é ensinar o conservadorismo na sua raiz mais profunda longe da “guruficação”. O conservadorismo não confia em homens que são recheados de justiça própria ou imputados de inerrâncias, não é possível confiar na natureza humana e seguir gurus. Além daquele que se encontra à destra de Deus, não é prudente seguir cegamente um líder que diga o que é certo e errado! 

O futuro do Brasil dependerá de cada pessoa consciente do seu amor por Deus, família, propriedade privada, liberdade e responsabilidade, pátria. Portanto, tenham cuidado com os gurus que visam uma antítese da esquerda.

O pensamento conservador em sua natureza não tem compromisso na formação de robôs, militantes, geração de papagaios, mas na formação plena do ser humano. Viktor Frankl, o renomado psiquiatra defendia que ”o homem não é uma máquina, ele é um ser que transcende, que está em busca de sentido”.

Nada melhor que entender quem é você e o que se encontra ao seu redor, aquilo que é real, belo, durador, verdadeiro. Isto é a essência do conservadorismo. Claro, tudo acaba na direção do nosso Criador.

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