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Cultura do “cancelamento” reflete uma geração fraca que não suporta ser confrontada

Se tornou comum o uso da expressão “cancelamento” nas rede sociais, algo que representa a reação negativa do público contra alguém ou instituições. O que pode parecer bom em alguns casos, porém, também pode significar o estado de fragilidade emocional de uma geração cada vez mais intolerante, algo que exige a nossa atenção.

Apesar de vivermos numa geração onde as palavras “diversidade”, “pluralidade” e “tolerância” têm sido amplamente utilizada, especialmente por grupos ditos minoritários, a realidade que temos observado sugere algo bem diferente, onde o contraditório, isto é, o que nos confronta, vem sendo cada vez mais suprimido.

As redes sociais estão repletas de registros onde vemos grupos promovendo a censura e campanhas de ódio contra outros. O mais absurdo disso é constatar que nem mesmo nas escolas e universidades, locais onde o livre debate de ideias deveria ser um estímulo constante e inegociável, isso tem sido diferente.

O “cancelamento”, nesse contexto, virou muito mais uma ferramenta de autoproteção e controle de narrativas, do que de repúdio ao que realmente é ruim na sociedade. Não por acaso, vemos que os “cancelados”, normalmente, são pessoas que não adotam para si os jargões e pensamentos do “politicamente correto”, especialmente quando isto envolve pautas da esquerda política como feminismo, aborto, agenda LGBT+, drogas e meio-ambiente.

Eu mesma, por exemplo, até hoje sou vítima dessa cultura de intolerância, desde que há mais de 20 anos decidi defender publicamente os pensamentos contrários ao progressismo ideológico, sendo uma das poucas vozes no Brasil à denunciar as falácias da ideologia de gênero, agregando a isso o combate à tentativa de desconstrução dos valores judaico-cristãos.

A foto de capa desse artigo foi de algo que realmente aconteceu comigo em 2022, quando o ativismo LGBT+ fez pressão contra uma palestra que eu deveria dar na UniEnsino – Centro Universitário do Paraná, sobre a ideologia de gênero.

Na época, fui informada que professores, a diretora da instituição e alunos que fizeram a inscrição voluntária para participar do evento, passaram a ser intimidados por ativistas, que chegaram a fazer ligações telefônicas para pressionar os estudantes contra a palestra. Resultado: conseguiram cancelar a programação!

Universidade cancela minha palestra após ameaças de ativistas LGBT+ | Opinião | Marisa Lobo | Pleno.News
Exemplo de “cancelamento” que eu, Marisa Lobo, sofri em pleno ambiente acadêmico. Foto: reprodução/redes sociais

O que está por trás disso?

Se já sabemos que a cultura do cancelamento pode servir, na verdade, como uma forma de promover o autoritarismo e a restrição do debate público, a pergunta que devemos fazer é a seguinte: haveria algo por trás disso, além do mero desejo de controlar a opinião da sociedade?

É possível que estejamos diante do surgimento e consolidação de uma geração incapaz de debater, porque não possui estrutura emocional suficientemente forte para lidar com tudo o que lhe tira da zona de conforto mental e emocional.

São jovens que, em tese, enxergam no contraditório uma forma de ofensa, e não a oportunidade de crescimento intelectual; Jovens que cresceram tendo seus cérebros condicionados pela experiência restrita das redes sociais, onde através da virtualização tudo parece “pronto”, mais “fácil” e “aceitável”, já que tudo é filtrado com poucos cliques, e conforme os próprios interesses, incluindo as “amizades”.

Como esperar que jovens criados nessas condições, onde até mesmo os vínculos afetivos têm sido digitalizados, saibam reagir corretamente ao confronto de ideias? A verdade é que, infelizmente, essa geração parece reagir conforme a determinação dos algoritmos importados para suas mentes, sendo a cultura do “cancelamento” apenas uma parte dessa programação social fantasiosa.

Com isso, não é surpresa vermos a explosão de casos de transtornos emocionais entre os jovens da atualidade, já que esses eles não conseguem “cancelar”, pois podem ser justamente o reflexo da falta de capacidade para lidar com a vida real, onde o confronto de ideias é natural e faz parte.

Espero, finalmente, que ainda tenhamos a chance de recuperar essa geração, a fim de que a cultura do cancelamento seja substituída pela verdadeira cultura da diversidade, onde o respeito ao contraditório seja uma regra inegociável e o confronto de ideias nada mais, nada menos, do que uma forma de aprendermos à conviver melhor com nossas diferenças.

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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