Quando falamos de Brasil, precisamos tratar sobre tudo, especialmente acerca da perspectiva de governo futuro, o que envolve o nome dos potenciais candidatos para a disputa eleitoral de 2022. Neste sentido, não posso deixar de expressar a minha opinião sobre a figura ilustre do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
Já percebi que muitas pessoas apoiam Sérgio Moro com base no seu passado. De fato, enquanto juiz da operação Lava Jato, o seu trabalho foi um marco na história do combate à corrupção no Brasil, juntamente com os demais integrantes da força-tarefa. Essa não é uma questão de mera interpretação, mas de reconhecimento, visto que as suas decisões foram avaliadas e ratificadas por outras instâncias.
No entanto, como já escrevi em outra coluna, uma coisa é o Moro da Lava Jato e outra é o Moro político. São figuras completamente diferentes, porque são funções diferentes. Essa é a questão que muitos ainda não perceberam, a qual considero um divisor de águas na intenção de apoiar ou não o ex-ministro.
O Moro juiz se detinha aos autos. Sua função era julgar de acordo com a legislação brasileira, e só! O Moro político, por outro lado, é alguém que traz consigo tudo o que ele pensa sobre centenas de coisas que vão muito além da esfera jurídica. Não estamos mais falando, portanto, do juiz, e sim do cidadão Moro, o que significa seus valores, sua fé (ou falta dela), seu modo de agir e etc.
Ou seja, quem apoia o ex-ministro apenas pelo que ele fez na Lava Jato, muito provavelmente não está sabendo enxergar essa diferença, apesar de bastante gritante, e ela só tem ficado cada vez mais evidente.
Basta ver quais são os seus atuais aliados e afins; sua maneira esquiva de tratar de forma objetiva e clara pautas morais e de costumes, bem como a sua postura tipicamente marqueteira que surgiu da noite para o dia, contrariando a impressão que tínhamos da figura reservada durante a sua atuação no governo.
Essa alteração brusca de posicionamento sugere se tratar de alguém que não é confiável, visto que parece ter a capacidade de mudar de rumo de acordo com às suas próprias conveniências. Não por acaso ele abandonou o governo subitamente, poucos meses após destacar avanços.
Não por acaso também, ele traiu a confiança da deputada Carla Zambelli, mesmo tendo sido o seu padrinho de casamento, ao revelar prints de uma conversa privada para nada menos que a Rede Globo. Ou seja, qual é o tipo de pessoa que faz algo dessa natureza, friamente e, aparentemente, de forma calculada, que possa ser digna de confiança para governar uma nação?
No meu entender, o perfil que analiso no Moro político não é digno do “benefício da dúvida”, como sugeriu o comentarista Caio Coppolla durante o programa Pânico esta semana, visto que as atitudes que o ex-ministro vêm tomando desde quando renunciou ao cargo, em abril de 2020, já são suficientes para traçá-lo como alguém que não é diferente do que há na velha política.
Nenhum governo é feito de pauta única. Além do combate à corrupção, o Brasil precisa de diretrizes morais, educacionais, de segurança e garantia de direitos individuais que foram violados durante a pandemia, os quais o ex-ministro também não saiu em defesa, mas em vez disso se posicionou de forma favorável à prisão de cidadãos acusados de infringir medidas sanitárias abusivas.
Portanto, concluo que o apoio a Sérgio Moro pelo que ele fez na Lava Jato é um equívoco de interpretação. O Brasil deve agradecer os seus serviços enquanto juiz, mas não pode se iludir com a postura de alguém que agora assumiu a função de político, pois as consequências podem ser muito drásticas para o futuro.